quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Tirando o atraso -- Desrespeito ao espectador, de tão desprezível; um dos piores filmes da história

É difícil compreender a razão pela qual ícones da sétima arte se submetem a trabalhos ruins. Anthony Hopkins, Morgan Freeman (este, nem tanto) e Al Pacino são exemplos. Já tiveram o auge na carreira, já conseguiram tudo que quiseram e abraçam projetos duvidosos. Dificilmente algum deles vencerá Robert De Niro com seu "Tirando o Atraso", que representa que De Niro chegou ao fundo do poço - pior, propositalmente.

Trata-se de um road movie em que Dick (De Niro), viúvo, pede ao seu neto Jason (Zac Efron) que dirija para ele até a Flórida, que, a contragosto em razão do momento - véspera do seu casamento com Meredith (Julianne Hough) -, acaba aceitando. O filme acaba se tornando um lixo que mistura, de forma vulgar, ofensiva, indecente e discriminatória, uma série de clichês do humor que nem a pior das comédias conseguiu reunir. Um lixo-rei!

Como um grande ator como Robert De Niro aceita a própria decadência para se expor em situações constrangedoras? Desde o final da década de 1990, ele já estava engajado na comédia (como nos ótimos "Máfia no Divã" e "Ninguém é Perfeito"), agora, aceita os papéis que vierem (inclusive em filmes politicamente corretos, como "Um Senhor Estagiário"). De Niro agora faz qualquer papel, ainda que vergonhoso (a famosa vergonha alheia). Dick (nome sugestivo, mas não criativo) é um verdadeiro dirty grandpa como sugere o título original do longa: preconceituoso, arrogante, politicamente incorreto, enfim, asqueroso. "Se Beber, Não Case" parece um conto de fadas se comparado a "Tirando o Atraso".

É, como dito, um lixo de história que reúne todos os clichês, dos inofensivos aos desprezíveis: piadas visuais (um carro rosa), nudez (Efron praticamente não teve figurino), ofensas ("gordo escroto"), romance artificial e personagens estereotipadas - um gay afeminado, uma noiva controladora, um pseudovilão metido, uma tarada ninfomaníaca, tudo de mais abjeto. As personagens estereotipadas, claro, sofrem todos os preconceitos possíveis, em especial, homofobia, racismo e machismo (um deles, homofobia e racismo concomitantemente).

Zac Efron também não devia aceitar o projeto, se quer ser um ator sério e respeitado. Jason é um frustrado (fez Direito, mas queria fotografia) que se submete a várias ofensas, verbais ("empata-foda", "neta lésbica" e assim por diante) e simbólicas (uma suástica composta de vários pênis pintada na sua testa). Uma cena falsa de abuso sexual de um menor (um mal-entendido, que fique claro) é clichê pequeno perto do resto, tão vil quanto. E, claro, Efron aproveita para expor seus talentos (canta e dança) e seu corpo nu em incontáveis oportunidades. Como conseguir respeito artístico? Efron e De Niro se reúnem por um motivo óbvio: colocar no cinema diferente gerações, para atrair maior público. Entram com seu nome, não seu possível talento - até porque talento não foi necessário para atuar no longa.

"Tirando o Atraso", a bem da verdade, é um desrespeito ao espectador, de tão desprezível. Mereceria uma nota negativa, apesar de algumas boas músicas ("Time in a bottle" e "I've got a world on a string") e os risos de canto de boca que a maioria das comédias consegue (longe daquele riso agradável do humor de qualidade). Algo como - 9. É um dos piores filmes da história da sétima arte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário