domingo, 23 de abril de 2017

Vida -- Desastre exemplar

VIDA é um desastre exemplar, tipo de filme que deve ser visto para saber o que não é recomendável em uma produção. Praticamente nada se aproveita da obra, nem mesmo o bom elenco, subaproveitado.

Na trama, uma equipe de seis astronautas de uma Estação Espacial Internacional descobre sinais de vida em Marte, investigando com empolgação a descoberta. Porém, percebem que o ser encontrado é mais inteligente que imaginavam e muito mais hostil do que gostariam, quando já é tarde e o alienígena já está dentro da Estação. Ou seja, trata-se de uma cópia barata de "Alien - O 8º Passageiro" (com ênfase no termo "barata").

Para não cometer uma injustiça, a edição de som e o design de produção são bons, embora muito aquém do nível fascinante de um "Gravidade", por exemplo. Ainda assim, é prova de que nem tudo é ruim em "Vida". O problema é apenas todo o resto: roteiro, direção, montagem, atuações e assim por diante.

Previsível e frio, o roteiro é pavoroso, com um início equivocado, um desenvolvimento insosso e um desfecho extremamente previsível. O início é equivocado porque, como produção, o filme ignora um elemento de relevância ímpar no cinema, que é a identificação cinematográfica secundária. Ao invés de desenvolver as personagens e permitir que o público sinta afeto por elas, torcendo por elas, são personagens descartáveis, quaisquer, cujas mortes não são sentidas pelo espectador. E isso é um erro crasso! É essencial que o espectador se sinta envolvido pela trama e pelas personagens, que torça por elas, que queira que algo aconteça. Sentir-se indiferente pelo seu desfecho pessoal significa que o filme falhou em uma de suas tarefas principais. Exemplo disso é que dificilmente alguém sai da sala sabendo o nome do papel vivido por Ryan Reynolds, por exemplo. Quando o elenco é peão no tabuleiro, trabalhando apenas para a ação acontecer, é indício que, enquanto arte, o filme é um lixo.

É onde entra o desenvolvimento insosso. O sci-fi migra para um thriller que também não é envolvente graças à fraquíssima direção de Daniel Espinosa. No primeiro ato, o que se tem são cenas de ação de difícil compreensão, não se podendo compreender o que realmente acontece, de tão rápido e com tamanha pressa. Não é à toa que as cenas mais calmas são as melhores, como as que fazem testes com as amostras marcianas. Ora, se a ideia do primeiro ato era ambientação, tudo deveria ser mais lento. Mas não era, porque o segundo ato aposta em um entediante jogo de gato e rato. Roteiro ruim e direção ruim: protocolos existem, mas são ignorados - de que adiantaram os firewalls e as quarentenas afinal?; como um cientista capacitado é autorizado (por si mesmo e pela superior) a "brincar" com um ser ainda desconhecido como se fosse um animal de estimação?; como pode aquele ser ter tamanha inteligência e ser tão invulnerável? Aliás, a palavra que sintetiza a criatura é "exagero": cresce rápido demais e é inteligente demais. Sua aparência, porém, não impressiona nem causa asco. Na verdade, é um ser mais simpático que algumas personagens, que o roteiro nem permitiu conhecer. O que ele permitiu conhecer é o final, que é extremamente óbvio, idiota e previsibilíssimo.

Não é culpa de Jake Gyllenhaal que sabemos apenas que seu papel (seja lá qual for o nome) quer ficar no espaço eternamente. Nem de Rebecca Ferguson que... na verdade, nada pode ser dito dela, nem de Ariyon Bakare, nem de Olga Dihovichnaya ou Naoko Mori, pois seus arcos dramáticos pessoais são inexistentes. Sobre o papel de Hiroyuki Sanada o texto passa uma única informação, que é um manancial perto dos demais. E Ryan Reynolds aparece com o humor de canalha já costumeiro, que nem sempre funciona. Ou seja, "Vida" tem um elenco desperdiçado, pois quaisquer artistas poderiam desempenhar esses papéis nulos.

A a direção não é bem cercada. Há uma cena em que uma das personagens "brinca" com o alienígena, de maneira imprudente, com os braços dentro da unidade onde a criatura se encontra, mas, com apenas dois cortes, já está com os braços fora, claro problema de continuísmo. Além do continuísmo, a montagem também é mal feita, como na cena de maior tensão (a da mão presa, constante no trailer), exagerando nos cortes e reduzindo o impacto do momento.

Inegável, diante de tantos equívocos, concluir que VIDA é um desastre exemplar. É tudo que não merece ser feito na sétima arte, tudo de errado e que não deve ser feito jamais. Talvez engane alguns desavisados, que não estão acostumados com a técnica exemplar de "Gravidade" ou até mesmo "Perdido em Marte". Aliás, o "Planeta Vermelho" tem fascinado o cinema nos últimos tempos. Contudo, no caso de "Vida", teria sido melhor deixar o projeto na gaveta e o fascínio como um ideal.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Estreias da semana -- 20/04/2017

O tempo das "vacas magras" continua, com "Vida" sendo a principal estreia da semana. O resto... nada promissor.

PAIXÃO OBSESSIVA
Sinopse: Quando o casamento entre David (Geoff Stults) e Tessa (Katherine Heigl) termina, ele fica com a casa e com a guarda da filha pequena. Tessa, furiosa com a situação, descobre que ele já está envolvido com uma nova mulher, Julia (Rosario Dawson), uma vítima de abuso por parte do ex-marido. Enquanto Julia se adapta à vida de madrasta, Tessa bola um plano para sabotar a nova namorada de David e retomar o relacionamento.

GOSTOSAS, LINDAS E SEXIES (nacional)
Sinopse: No Rio de Janeiro vivem quatro grandes e inseparáveis amigas: Beatriz, Tânia, Ivone e Marilu. Elas vestem manequim plus size e enfrentam todas as aventuras e desencontros amorosos e profissionais que quatro jovens mulheres podem enfrentar na capital carioca, (quase) sempre de bom humor.

PATERSON
Sinopse: Na cidade de Paterson, em Nova Jersey - EUA, Paterson (Adam Driver), um pacato motorista de ônibus local, vira um personagem conhecido por se destacar em uma arte diferente da condução de veículos: o rapaz é também um poeta.

O NOVATO
Sinopse: Benoit (Réphaël Ghrenassia) tem 14 anos que acabou de se mudar para a cidade de Paris. No novo colégio, as coisas começam mal quando ele passa a sofrer bullying por um grupo de populares arrogantes. Determinado ele decide organizar uma festa, mas apenas três estudantes nerds do colégio aparecem. E se eles formassem a melhor gangue de todas?

O SONHO DE GRETA
Sinopse: À beira de fazer 15 anos, Greta Driscoll (Bethany Whitmore) se sente enclausurada. Ela não consegue suportar a ideia de ter que deixar a infância e tudo aquilo que lhe oferece conforto para adentrar em um mundo novo, que não compreende. Com Elliot (Harrison Feldman), seu único amigo, ela trilha esse caminho até os pais lhe prepararem uma festa surpresa, onde mergulha em um mundo paralelo estranhamente erótico, um pouco violento e muito rídiculo.

JOAQUIM (nacional)
Sinopse: A história do que levou Joaquim José da Silva Xavier, um dentista comum de Minas Gerais, a se tornar Tiradentes, transformando-se em um importante herói e mártir nacional que veio a liderar o levante popular conhecido como a Inconfidência Mineira.

VIDA
Sinopse: Seis astronautas de diferentes nacionalidades estão em uma estação espacial, cujo objetivo maior é estudar amostras coletadas no solo de Marte por um satélite. Dentre elas está um ser unicelular, despertado por Hugh Derry (Ariyon Bakare) através dos equipamentos da própria estação espacial. Tal descoberta é intensamente celebrada por ser a primeira forma de vida encontrada fora da Terra, sendo que um concurso mundial elege seu nome: Calvin. Só que, surpreendentemente, este ser se desenvolve de forma bastante rápida, ganhando novas células e uma capacidade inimaginável.

sábado, 15 de abril de 2017

Despedida em Grande Estilo -- Mais hollywoodiano

"Eu, Daniel Blake" recebeu uma versão hollywoodiana. Vai-se embora o drama realista, entra a comédia suave; vão-se os nomes poucos conhecidos, entra o star system; esvai-se a acidez desconfortável, nasce o riso frouxo; adeus à reflexão constante, olá para o entretenimento efêmero. É essa a diferença entre o longa britânico mencionado e DESPEDIDA EM GRANDE ESTILO.

Como mencionado, o argumento é paralelo ao de "Eu, Daniel Blake" (embora este seja muito mais enfático e incisivo): a exploração dos idosos por parte dos bancos, resultando em problemas financeiros, o que eles consideram assaltos às suas aposentadorias e pensões. Joe (Michael Caine) testemunha um roubo a um banco, convocando seus amigos Willie (Morgan Freeman) e Albert (Alan Arkin) para que os três assaltem um banco juntos.

Assim, o roteiro tem como fio condutor temático o desrespeito aos idosos, do ponto de vista financeiro. Existe uma crítica social no fundo, mas com um viés bastante leve e divertido. É uma comédia mais divertida do que engraçada, de sorte que as piadas não costumam ser hilárias. Surpreende o fato que, apesar de serem idosos, esse fato não é rocambolesco na narrativa: em que pese mencionada incontáveis vezes, sua condição é perene no texto, enfatizando a "despedida". É também isso que faz a ponte com os arcos dramáticos pessoais e que permite a piada clichê de que pessoas de idade avançada têm dificuldade com tecnologia.

Michael Caine interpreta Joe, personagem principal, mais uma vez no piloto automático. Desta vez, a tarefa é encarnar uma figura paterna para a sua neta, um drama deveras superficial no plot. Alan Arkin, no geral, é o melhor do trio, atuando como um idoso rabugento que, meio que a contragosto, vive um affair com uma senhora fogosa (Ann-Margret, bem divertida). Com Arkin ficam as melhores piadas e o lado mais racional do trio. Morgan Freeman vive Willie, personagem que quase não tem arco dramático pessoal. Porém, Willie tem um problema pessoal que surge de forma oportunista na narrativa, como um plot point desconfortável). Especificamente em relação à atuação, Freeman segue o caminho de Caine, no piloto automático. Contudo, em uma única cena, os músculos da sua face se movem de maneira mínima, evidenciando o grande ator que ele é. Existem ainda algumas participações especiais sem grande relevo: Matt Dillon é o policial incompetente, enquanto Christopher Lloyd (sim, o "Doc") faz o alívio cômico (da comédia (!)) como um idoso já sem a sanidade. Kenan Thompson também está presente, em um papel digno da sua incompetência como ator.

A direção do filme coube ao inexperiente Zach Braff, que teve apenas três acertos que merecem menção. O primeiro se refere à excelente trilha sonora, com ápice em clássicos como "Hallelujah I Love Her So" e "What a Difference a Day Makes". A primeira foi cantada em um karaoke que pode ter feito Ray Charles se revirar no túmulo, mas receberá seu perdão porque fez sentido na cena (e a entrega dos artistas era sensível). A segunda é cantada em uma versão decepcionante. Também acertou a direção nas referências explícitas a clássicos da sétima arte, especificamente "ET o Extraterrestre" (a cena está no trailer) e "Um Dia de Cão" (para quem viu o filme, mais cômica ainda a referência). Ainda mais relevante é o acerto no clímax, referente ao roubo, que consegue ser eficaz ao mexer com as emoções - o assalto vai dar certo? Se sim, como? Vão ser pegos depois? Também interessante perceber que Braff elabora a tela dividida em uma sequência de conversa ao telefone, recurso usual em comédias, mas infelizmente em desuso. No mais, o material do roteiro não permitia um trabalho melhor.

Provavelmente os medalhões (três vencedores do Oscar!) que assinaram o contrato para filmar esse filme também não almejavam um "trabalho melhor". O escopo devia ser dinheiro e diversão. Algo menos europeu e mais hollywoodiano. Menos "Eu, Daniel Blake" e mais "Despedida em Grande Estilo". Cada um tem seu público, não é mesmo?

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Estreias -- 13/04/2017

Infelizmente, todas as estreias da semana são ruins. Porém, merecem ser mencionadas, pois também têm seu público. Aqui vão elas!

VELOZES E FURIOSOS 8
Sinopse: Depois que Brian e Mia se aposentaram, e o resto da equipe foi exonerado, Dom e Letty estão em lua de mel e levam uma vida pacata e completamente normal. Mas a adrenalina do passado acaba voltando com tudo quando uma mulher misteriosa faz com que Dom retorne ao mundo do crime e da velocidade.

APESAR DA NOITE
Sinopse: Lenz (Kristian Marr) decide deixar a Inglaterra e retornar à Paris com o objetivo de tentar reencontrar uma mulher que fez parte de sua vida, mas que desapareceu em circunstâncias obscuras. De volta à Cidade Luz, Lenz conhece Hélène (Ariane Labed), uma enfermeira com quem inicia um complicado e tórrido caso de amor.

VARIAÇÕES DE CASANOVA
Sinopse: Vivendo em sua mansão, o famoso sedutor Giacomo Casanova (John Malkovich) tem um colapso nervoso e pede por ajuda. Quem vem ao seu socorro é a escritora Elisa von der Recke (Veronica Ferres), interessada em descobrir a verdade por trás da fama do italiano. Misturando a história de Casanova com a apresentação da ópera nos palcos, o filme aborda as paixões do personagem e seu medo da morte.

AS FALSAS CONFIDÊNCIAS (certamente o melhor da semana, graças à maravilhosa Isabelle Huppert)
Sinopse: Quando Araminte (Isabelle Hupert) contrata Dorante (Louis Garrel) como seu novo secretário, o rapaz da classe baixa se apaixona pela rica viúva. Diante disso, o criado Dubois (Yves Jacques) faz de tudo para que a mulher se apaixone pelo jovem.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

A Cabana -- Apenas mais um filme gospel

Mais um filme gospel, mais uma tortura, mais uma lavagem cerebral ou tudo isso junto? O filme A CABANA é a tardia produção que transformou o best-seller de William P. Young de livro em filme. Tardia porque o sucesso literário foi no início da década, indo ao cinema apenas no final. A ressalva sempre soa repetitiva, mas é necessária: a presente crítica se refere ao filme, e não ao livro (que precisaria ser lido para ser analisado).

Na trama, Mack (Sam Worthington) sofre um enorme abalo após a morte da sua filha mais nova, assassinada em uma cabana nas montanhas. Algum tempo após o evento, ele recebe uma carta sem remetente para retornar ao local. Chegando lá, ele amplia seus horizontes e aprende ensinamentos inestimáveis.

Nas aparências, um roteiro pedagógico cujo intuito é dar uma noção de espiritualidade, deísmo, perdão e bondade às pessoas. Inclusive, há uma suave e minimamente elogiável crítica à religião, quando Jesus diz não querer escravos, mas sim amigos, uma família. Essa parte do filme certamente seu público-alvo ignora, raciocínio fruto da alienação que os líderes religiosos fazem em suas mentes. Enfim, vale a menção.

O longa é eficaz para contrapor o protagonista antes e depois do que lhe acontece na cabana. Antes, Mack é uma pessoa amargurada, que não perde a crença em Deus, mas o enxerga como um ser mau, por permitir que sua filha fosse levada. Mack não era ateu, mas apenas um revoltado. Diferente da sua esposa, Nan (Radha Mitchell), cuja crença é dogmática. Também diferentes são as atuações: Mitchell aparece pouco, mas convence. Já Sam Worthington é o mesmo que já se conhece: ele atua tão bem quanto um floco de neve, com uma interpretação sólida e calorosa como uma gelatina. Worthington é especialista em filmes fracos ou ruins, exceção feita, é claro, para "Avatar". Já seus coadjuvantes são de bom nível: o "Papai" de Octavia Spencer tem um olhar acolhedor e emocionado, dando humanidade à personagem; Avraham Aviv Alush é um Jesus fidedigno com a visão pregada hoje, qual seja, de um sujeito descontraído, altruísta e bondoso; Sumire Matsubara faz de Sarayu a personificação do enigma atrativo em si mesmo; e Alice Braga é uma Sabedoria convincente. Já Graham Greene interpreta um "Papai" um pouco indiferente, enquanto Tim McGraw é de uma artificialidade sem igual.

O diretor é Stuart Hazeldine, do desastroso "Presságio", mais uma comédia involuntária do currículo do inoxidável Nicolas Cage. Uma certeza: a melhora foi em progressão geométrica. O problema é que Hazeldine estava em camadas tão profundas de má qualidade que, aqui, aproximou-se apenas do medíocre. Se o diretor já sabia que Worthington era um ator ruim, ao invés de metralhar músicas piegas, não seria melhor sugerir aos produtores a escalação de um ator melhor? Um montador também ajudaria, vide a cena em que Mack, quando criança, leva um tapa, caindo quase dentro da casa. Outra função relevante do diretor é a formação do clímax. No caso de "A Cabana", o que se tem é um clímax não muito impactante, com um terceiro ato que perde bastante força, tornando-se monótono cada vez mais.

Ainda, se o livro faz a cena da Sabedoria em uma caverna, referindo-se a Platão - o que já indica a falta de criatividade -, e se o roteiro mantém essa caverna, melhor seria criar um design interno mais lúdico, não tão tradicional. Também é engraçado perceber que a cena da caverna dispensa o resto do filme, pois é a única que ataca a questão central, podendo excluir as demais sem prejuízo intelectual. Seria cômico, se não fosse trágico. O próprio texto é questionável: se o pai maltratava o filho, é compreensível que o filho seja mau? Então por que Mack não o era?

Provavelmente o maior problema - além de Worthington - reside no roteiro. Não se trata de questionar o livro, que tem espaço para maior densidade. O texto de "A Cabana" é muito superficial no que se propõe a questionar, satisfazendo seu público-alvo, que não precisa de muito, mas não o público externo. Explica-se. Há uma analogia com a crucificação, a partir de uma suposta lenda indígena, o que seria interessante. Ocorre, porém, que o filme faz questão de enaltecer seu didatismo, mastigando tudo que apresenta. Ato subsequente, ataca a superfície dos problemas que enfrenta, jamais encarando-os de frente de uma maneira mais densa. A maneira certa de perdoar é repetir para si mesmo diversas vezes que perdoa? Falta substância no roteiro, falta algum conteúdo que tire o espectador da sua zona de conforto e o faça concluir para si mesmo: "eu nunca tinha pensado assim". Não se trata de convencer, mas de fazer pensar. A ideia deveria ser estimular o raciocínio de quem não é cristão, pois cristãos, em tese, já aceitam com tranquilidade aquelas premissas, logo, uma pessoa com esse perfil como referente apenas aceita o texto e aproveita a narrativa. Já o referente não cristão não se satisfaz, querendo algo mais profundo. Não ter furos no roteiro seria um bom começo (a ideia após o jantar seria que Jesus mostrasse seu trabalho, não as estrelas, não é?).

Não é tortura nem lavagem cerebral, longe da ofensa de outros filmes do subgênero gospel. A CABANA é exatamente isso: apenas mais um filme gospel, que não se sobressai nem envergonha, passando despercebido. Mais um exemplo - agora no cinema em geral - em que (provavelmente) ler o livro é experiência melhor que ver o filme.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Estreias - 06/04/2017

São poucas as estreias boas na semana. Na verdade, apenas "Despedida em Grande Estilo" pode ser melhor que as demais. Vamos a elas!

A CABANA

Sinopse: Um homem vive atormentado após perder a sua filha mais nova, cujo corpo nunca foi encontrado, mas sinais de que ela teria sido violentada e assassinada são encontrados em uma cabana nas montanhas. Anos depois da tragédia, ele recebe um chamado misterioso para retornar a esse local, onde ele vai receber uma lição de vida.
Com: Sam Worthington e Octavia Spencer.

GAGA - O AMOR PELA DANÇA
SinopseA carreira de Ohad Naharin, coreógrafo e diretor artístico da Companhia de Dança Batsheva.
(Não, não tem relação alguma com a cantora Lady Gaga)

DOLORES - UMA MULHER, DOIS AMORES
Sinopse: Argentina, durante a Segunda Guerra Mundial. Após ficar muitos anos longe de seu país-natal, Dolores (Emilia Attías) retorna à fazenda da família para cuidar do sobrinho Harry após a morte de sua irmã. Ela logo reencontra Jack (Guillermo Pfening), seu cunhado agora viúvo, por quem foi apaixonada durante toda a sua adolescência e com quem começa um complicado caso de amor. Ao mesmo tempo, Octavio Brand (Roberto Birindelli), um rico fazendeiro filho de alemães, divide o coração da moça.

POR TRÁS DO CÉU
Sinopse: Em um lugar tomado pela extrema pobreza, Aparecida (Nathalia Dill), mulher forte do sertão, vive cheia de sonhos e esperança. Enquanto o marido Edivaldo (Emilio Orciollo Neto) leva uma vida amargurada por uma tragédia do passado, a jovem decide tomar uma atitude que pode mudar sua trajetória para semore: partir para a cidade grande.

TODAS AS MANHÃS DO MUNDO

Sinopse: Percorrendo todos os continentes do planeta, o documentário demonstra as diferenças entre espécies de animais e plantas, com destaque para os procedimentos de adaptação ao habitat, a luta por comida e as mudanças climáticas. As espécies são observadas por dois narradores: o Sol (Ailton Graça) e a Água (Letícia Sabatella), que ressaltam sua importância no funcionamento do ecossistema.(Não, não é o belíssimo filme francês)

OS SMURFS E A VILA PERDIDA

Sinopse: Smurfette não está contente: ela começa a perceber que todos os homens do vilarejo dos Smurfs têm uma função precisa na comunidade, menos ela. Indignada, ela parte em busca de novas descobertas, e conhece uma Floresta Encantada, com diversas criaturas mágicas. Enquanto isso, o vilão Gargamel segue os seus passos.

CÃES SELVAGENS

SinopseA história de três homens que saíram da prisão e agora tentam se adaptar à vida civilizada. Troy (Nicolas Cage) procura uma vida limpa e sem complicações, mas não consegue deixar de lado o ódio pelo sistema; Diesel (Christopher Matthew Cook) perde a cada dia o interesse na rotina suburbana e na esposa; e Mad Dog (Willem Dafoe), o mais insatisfeito, planeja um crime perfeito que será a salvação de todos.
Com: Willem Dafoe.

DESPEDIDA EM GRANDE ESTILO

Sinopse: Willie (Morgan Freeman), Joe (Michael Caine) e Albert (Alan Arkin) são amigos há décadas. Eles levam uma vida pacata, mas sofrem com problemas financeiros. Quando Willie testemunha o assalto milionário a um banco, decide chamar Joe e Albert para elaborarem o seu próprio assalto. É a vez de os idosos se rebelarem contra a exploração dos bancos.
Com: Morgan Freeman, Michael Caine e Alan Arkin.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

O Espaço Entre Nós -- Entretenimento leve

Aviso: o presente texto tem alguns spoilers, devidamente avisados e tachados (assim). No que não está tachado, nada extraordinário.

Sim, é um feel good movie bastante pueril e edulcorado. E não, não há muito conteúdo em O ESPAÇO ENTRE NÓS. Contudo, constitui experiência leve e agradável.

O prólogo, por exemplo, é um discurso sobre a deterioração da natureza em nosso planeta e a necessidade em ir para outro. Entretanto, se a ideia fosse de um olhar mais crítico, seria mais interessante explicar como a Terra chegou a esse estágio, o que pode ser feito para retardar os efeitos lesivos e como evitar que o mesmo ocorra no outro planeta a ser colonizado.

É esse o argumento da película: Nathaniel Shepherd (Gary Oldman) é um cientista visionário que encaminha um grupo de astronautas para viverem em Marte, tendo como objetivo, talvez (se tudo der certo), iniciar uma colonização. Porém, uma das astronautas está grávida, nascendo Gardner (Asa Butterfield) em plena atmosfera marciana. Dezesseis anos depois, ele deseja viajar à Terra para conhecer suas origens, com a ajuda de Tulsa (Britt Robertson), que conhece apenas virtualmente.

A melhor parte é a hibridização dos gêneros: o longa transita entre ficção científica, romance, aventura, road movie e drama (nessa ordem), com pitadas cômicas em alguns momentos. A direção de Peter Chelsom consegue fazer esse trânsito com eficácia, usando como trunfo uma fotografia mais bonita ao final, compensando um pouco o CGI pífio da primeira metade. As cenas no espaço, por exemplo, são muito aquém do desejável. Existe ainda uma sequência equivocada de elipses quando Gardner tem dezesseis anos, acontecendo tudo de maneira abrupta: em pouquíssimos minutos, o público sabe que o robô é o melhor amigo do garoto, ele é super inteligente em computadores e, tardiamente, ele passou a ter curiosidade sobre a mãe. Não bastasse a velocidade sobre isso, existem furos no roteiro, como a falta de explicação de como ele e Tulsa começaram a conversar. Em síntese, falta naturalidade nesse apresentação das personagens (o filme começa antes de aparecerem, quando aparecem, é tudo abrupto).

O roteiro tem alguns aspectos que podem ser elogiados. Há realismo ao ressaltar a preocupação da empresa com a repercussão social dos primeiros eventos em Marte, em especial a cobertura da mídia sobre o caso. [SPOILER ALERT: a morte da líder e o retorno ou não da criança é, de fato, uma questão complexa. O que é melhor: que ele continue lá sem mãe? Deveria retornar e arriscar a própria saúde?]. Há também uma fala de Tulsa que merece menção especial, quando ela explica a Gardner que todas as pessoas são problemáticas, não podendo dizer o que realmente pensam, caso contrário, seriam felizes - ironicamente, um absurdo.

Por sua vez, o elenco é, genericamente, satisfatório. Espera-se de Gary Oldman uma atuação digna de Oscar sempre, mas aqui não é o caso. Nathaniel é uma personagem construída em camadas, servindo como fio condutor da narrativa em muitos momentos. A divisão entre o humanismo e a ambição que residem em Nathaniel é visível em Oldman, que, porém, está no piloto automático. O que significa muito mais que muitos artistas, é claro. Já o protagonista Asa Butterfield revela-se perfeito para o papel, em especial pelo jeito ingênuo e desengonçado de Gardner. Sua linguagem corporal dá o perfil exato do jeito desastrado do garoto (a calça acima do tornozelo enaltece esse fator), bem como os olhos azuis permitem a Butterfield imprimir o olhar inocente de Gardner. O ímpeto em procurar as origens genéticas também é compreendido pelo ator, que transpõe essa vontade na atuação. Também Britt Robertson é adequada para o papel de Tulsa, a adolescente rebelde cuja expressão de revolta com tudo e com todos é notória. O papel é unidimensional e estereotipado, mas agrega à trama. Ou seja, o romance entre os adolescentes não é descartável.

Ocorre que o roteiro é bastante questionável em alguns momentos (e aqui aparecem alguns spoilers). Aliás, essencial destacar que o roteirista é o mesmo do altamente frustrante "Beleza Oculta", Allan LoebPor que não há preocupação nenhuma quando Gardner chega na Terra? Não pensam nas doenças que ele poderia adquirir aqui, por não ter a imunidade desenvolvida? E como a médica não pensa em um exame que Nathaniel pensa? O próprio plot twist (cabe mencionar que a existência de um plot twist em um filme nesses moldes é surpresa agradável) é questionável: se a xamã reconheceu o casal, como poderiam ser irmãos? Os irmãos estavam se casando? Ou o xamã se lembrou apenas dela? Nesse caso, por que ela teria pagado, se Nathaniel era rico? Trata-se de uma falha na elaboração da reviravolta. Assim como é falha a cena em que Butterfield coloca uma vestimenta de um homem visivelmente maior que ele (inclusive de largura), sem aparecerem "sobras", e assim como é falho o exagero na didática, como quando Kendra (Carla Gugino, desinteressante, ainda que carismática) enfatiza que o menino é um romântico. Não são poucas as falhas, mas o comprometimento do filme para com uma obra impactante também não é tão intenso. A ideia não é reinventar a roda. Exemplo disso é a trilha sonora, que é boa, mas não extraordinária.

O saldo é de um filme que certamente vai satisfazer o seu público, consistente naquele espectador sedento por feel good movies. Uma obra para ser vista sem preocupações e sem a ambição de gerar reflexões, mas apenas para entretenimento leve. E como entretenimento leve, há êxito.