quinta-feira, 28 de julho de 2016

Mãe Só Há Uma -- Espectador refém da profundidade esperada

MÃE SÓ HÁ UMA é o novo filme da festejada diretora Anna Muylaert, recentemente convidada para integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (o que significa que ela vota para decidir os vencedores do Oscar) e que chamou a atenção por "Que Horas Ela Volta?". Inicialmente, não é uma produção Globo Filmes, o que é bom indicativo.

O enredo é a história do menino Pedrinho, com alguma pimenta: baseia-se na história real da década de 1990 em que se descobriu que o garoto era criado por uma família que não era a biológica, pois ele tinha sido roubado ainda na maternidade, sem saber, até que a família biológica o encontra; a pimenta é que o garoto é um adolescente que foge do padrão tradicional de conduta bem visto por uma sociedade mais conservadora. Neste olhar conservador, Pierre é um rebelde: aos 17 anos, fuma maconha e tem uma sexualidade bastante aflorada (talvez até demais, chegando ao nível de colocar uma das mãos nas coxas de uma colega - e subir). Ele tem relação sexual com uma garota, que aparentemente não se importa com o fato de ele usar calcinha. Nos momentos íntimos no banheiro, Pierre usa batom e calcinha (e tira fotos), se depila... talvez pudesse ser rotulado como crossdresser, mas não homossexual, embora beije um garoto. É justamente isso: ele não se encaixa em rótulo algum, Pierre é único, como cada pessoa deveria ser encarada. Rótulos são reducionistas, cada ser humano é especial e único da sua própria maneira. Qual a orientação sexual de Pierre? Tanto faz, é o que ele quiser! A proposta da abordagem é apontar para o equívoco social de enquadrar as pessoas em categorias, o que facilita a discriminação. Se Pierre quiser usar vestidos, qual o problema? Ideologicamente, é isso que o filme quer dizer - o que a diretora, inclusive, reconhece, pois quer fazer da sua arte uma ferramenta de evolução social.

O problema é que o longa tem pouco tempo e muitas tramas, tornando-se confuso e inofensivo, além de desconcentrar o próprio espectador. Vida de Pierre, vida de Joca (irmão biológico), atrito familiar, nova vida da irmã (de criação) de Pierre... parece que o roteiro é uma sopa em que foram misturados ingredientes dos mais diversos, tantos que fica imperceptível decifrar cada um deles. E isso acaba impactando na reverberação individual, isto é, torna-se mais difícil refletir quando o filme é curto e muitas são as temáticas abordadas. Dito de outra forma, falta um norte temático ao plot, um mote narrativo, embora as engrenagens estejam todas lá. O filme não é parado, há uma sucessão de eventos, existe começo, meio e um fim (que é, inclusive, bastante delicado). A construção da narrativa é com base em dicotomias, como a família antes da descoberta e a família depois, a irmã de antes e o irmão de depois, as roupas de antes e as roupas de depois, assim por diante. Algo um pouco restrito, ainda mais em um longa-metragem de apenas (cerca de) oitenta minutos, mas nada grave. Ruim é a quantidade de tramas lançadas como se fossem flechas, tornando-se, em visão macro, quase imperceptíveis. Como se espera a reflexão do espectador se é tudo tão horizontal? A ausência de verticalização foi quase fatal.

Quase, porque existem bons elementos. O primeiro deles é o bom trabalho de câmera, priorizando planos fechados e primeiros planos (eventualmente, planos-detalhes). Pode parecer um paradoxo os planos abertos nas casas em que Pierre viveu (família de criação versus família biológica), mas é proposital: o intuito é enaltecer o abismo econômico entre as duas famílias. O garoto sai de uma casa pequena, carente de reformas e claramente pobre, para habitar um lar repleto de aposentos grandes, com uma empregada doméstica - negra e de uniforme, estereótipo que simboliza lamentável incoerência para quem fez "Que Horas Ela Volta?" -, suítes e todo tipo de luxo com que ele não estava acostumado. O abismo não se restringe à esfera econômica: Pierre pode encontrar afeto nos dois lares, mas são muito distintos. Com a mãe de criação, ele é livre, um adulto solto no mundo e que faz praticamente o que quer. A mãe biológica, diversamente, é controladora e invasiva (força a porta, quer ajudar a arrumar a mala - até encontrar um vestido - etc.), só não chega ao conservadorismo do pai, que não aceita a individualidade do filho. A família biológica queria Felipe, por isso que Pierre não os satisfez. Eles tinham expectativas, talvez algo próximo do irmão Joca - gosta de futebol, usa vestimentas para garotos, faz judô -, encontraram um indivíduo que gosta de experimentar, descobrir e ser o que quer, quando quer. Ao querer decidir as novas roupas de Pierre - e ele reage radicalmente, gerando um efeito cascata -, os pais querem tomar as rédeas, simbolicamente, da sua vida como um todo. Porém, o que ele quer é a liberdade que tinha antes, a vida que tinha antes - também rejeita o nome Felipe.

No lar inicial, o pai é morto, havendo apenas a mãe e a irmã (e depois uma tia, pouco significativa). No novo lar, há um irmão, um pai e uma mãe. A ideia de usar a mesma atriz para fazer dois papéis (mãe de criação e mãe biológica) foi simplesmente genial: além de justificar o nome da obra - que, inclusive, é uma expressão bastante conhecida como senso polular -, faz um jogo metafórico. No visual, é fácil perceber a gigantesca diferença: figurino e penteado absurdamente distintos. Infelizmente, a discussão sobre a maternidade fica na superfície. A atriz é apenas uma, o carinho é o maternal, mas elas não são a mesma pessoa. Quem é a mãe? O roteiro deixa um vácuo a esse respeito.

Também acertado foi o elenco, com uma exceção. Naomi Nero é o responsável por dar vida a Pierre. Nero expõe o corpo, mas sua expressão blasé é aquém do que o protagonista exigiria. Por outro lado, os atores que interpretam seus pais são excelentes. Dani Nefussi interpreta Aracy e Glória: embora o visual colabore, o trabalho da atriz como duas mães diferentes é fenomenal. Aracy transborda tensão na cena do exame de DNA, mas não olvida do carinho que sempre nutriu por Pierre, acariciando-o: mérito da linguagem corporal executada por Nefussi. O olhar de Glória ao, com bastante afeto, analisar o filho após tanto tempo, é de um texto eloquente, apesar das poucas palavras da personagem naquele momento - ou seja, a atriz transmite uma mensagem com os olhos. Matheus Nachtergaele atua como o pai Matheus, deixando claro, novamente, que Nachtergaele é um enorme talento desperdiçado pela Globo. Ele não é um ator exclusivo de comédia, sua versatilidade e qualidade estão em "Mãe Só Há Uma", em que ele faz um papel mais másculo, sério, tradicional e fechado que o costumeiro. A barriga falsa quase passa despercebida. O elenco mirim também é competente, embora o aprofundamento - se é que tal palavra se aplica a este longa - nos seus arcos dramáticos seja prejudicial ao produto final (a não ser que todos os arcos, como dito, fossem verticalizados, ganhando mais tempo).

Figurino, direção de arte e trilha sonora são também bons elementos. A aposta no visual gritante de Pierre dá certo, seu ar de rockeiro é de fácil percepção (prevalência de camisetas ou regatas neutras e lisas, calças escuras e coladas, cabelo comprido, maquiagem nos olhos e unhas pintadas), e totalmente diverso ao que ele adota no terceiro ato. Há demora para a primeira música extradiegética, mas o "free yourself" do rock indie da banda do protagonista passa uma mensagem bastante clara.

Muylaert tem bastante talento, é um fato inegável. A cena da prisão de Aracy na frente dos filhos com uma câmera acompanhando-a, sequência em slow motion e sons diegéticos de xingamentos é primorosa, e a coragem do prólogo cru (festa, bebida, "pegação", sexo e - cereja do bolo - calcinha) é raro no cinema brasileiro. A acidez da abordagem também se faz presente: uma menina, ainda criança, assistindo a uma propaganda de um produto contra a celulite não está lá à toa (aponta para a ditadura do padrão de beleza culturalmente imposto) - sem contar a "rebeldia" do protagonista, evidentemente. Todavia, todo o talento, desta vez, ficou camuflado em meio a um filme que, ao invés de se debruçar sobre matérias complexas e controversas, prefere sugerir temáticas variadas, deixando o espectador refém da profundidade esperada.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

A Lenda de Tarzan -- Quase uma perda de tempo


A LENDA DE TARZAN é um filme necessário? É evidente que não. Logo, legítimo concluir que é mais um exemplar do escancarado ocaso de criatividade em Hollywood, sintoma que tem sido agravado mais e mais, cujo tratamento é evitado pelo grande público (os circuitos alternativos). Isto é, a película é mais do mesmo. A não ser que apresentasse uma mudança de paradigma - o que não é o caso -, seria um filme para cair no esquecimento. Como de fato é.

Em tese, um filme começa com um enredo. No caso de "A Lenda de Tarzan", tendo em vista a existência de diversas obras pretéritas - afinal, a história original é do início do século XX -, o roteiro tenta enganar o espectador ao apresentar um Tarzan já totalmente integrado à civilização como nobre e vivendo com sua esposa Jane neste contexto do fim do século XIX. Ele passa a ser conhecido como John Clayton III, ou Lorde Greystoke, refutando para todas as pessoas (exceto um grupo de crianças) o nome de Tarzan (inclusive, Jane a chama de John). Em síntese, ele acaba sendo envolvido sem querer em uma trama obscura: o rei belga pretende enriquecer e ter um exército de escravos com o que o Congo oferece, para isso, o aval do Chefe Mbonga (líder de uma tribo local) se mostra necessário, razão pela qual Leon Ron (enviado do rei) atrai Tarzan Lorde Greystoke para que retorne ao Congo e sofra a vingança pretendida por Mbonga. A rigor, o vilão é o rei belga (que nem aparece), pois Leon, vilão de fato, é apenas seu capanga, e Mbonga é um obstáculo lógico. O roteiro erra também ao sugerir subtramas jamais aprofundadas, como a briga entre Tarzan e seu irmão (de criação, o gorila) Akut e, principalmente, o histórico de George (personagem que merece observação à parte). A rixa entre Tarzan e Mbonga, por outro lado, é límpida. Ainda, o script comete erros primários como um terceiro ato óbvio e previsível e a utilização de um deus ex machina nada plausível - ainda que se considere a diegese bastante fantasiosa.

Na mesma linha de raciocínio, a construção das personagens é deficiente, e as atuações não extraem mais do que o plot oferece. O plurinominado Tarzan é vivido por Alexander Skarsgard, que não consegue oferecer muito mais que o corpo sarado digno da personagem (embora estranho na trajetória do herói, afinal, ele estava há 8 anos distante da natureza, o que não parece quando retorna, pois seu fôlego continua sendo o de um atleta). O ator se esforça (para além da aparência), fazendo uma voz contida quando "está" Lorde e aparentando estar menos inibido ao retornar ao Congo. Contudo, não é um Tarzan lá muito fascinante: com poderes exagerados em demasia - a tautologia parece equivocada, mas é proposital para enfatizar o excesso (em uma luta com o Superman, talvez o kriptoniano perdesse) - e um grito prejudicado pela mixagem de som (ao invés de privilegiá-lo, o camufla), não é aquele Tarzan que encanta como deveria. A rigor, é quase uma máquina, um Tarzan sem personalidade alguma: em nenhum momento é possível saber o que ele pensa ou sente, pois o que ele faz é enfrentar tudo e todos para "tirar sua amada das garras do vilão" (original, não?). É unidimensional, exceto ao aceitar a empreitada, por insistência de George (um flerte com preocupação humanitária, jamais verticalizada). Quem é Tarzan? Duas horas de filme não explicam. Jane também não é uma personagem cativante em razão da covardia no roteiro: é bem verdade que ela, já no início, enfrenta o marido por querer voltar ao Congo, e também é verdade que ela não tem medo de Leon Ron (alguém teria?), sem contar que ela acaba sendo a salvadora em determinado momento... ou seja, ela até demonstra coragem, mas, na prática, não sai do arquétipo de donzela em perigo. É a mocinha sequestrada que precisa do salvamento do seu herói. Afirmar que o contexto da época explicaria tal lógica é uma fundamentação possível, mas não merece prosperar porque o contexto atual é outro. O roteiro perdeu a oportunidade de revolucionar a história do casal, fazer a mencionada mudança de paradigma. E se a ideia era fincar os pés no século XIX, Jane não cuspiria na face de Rom. A personagem fica em cima do muro: audaciosa, porém indefesa. O resultado é que prejudica a atuação de Margot Robbie, que pode ser mais que uma mulher belíssima, quiçá uma boa atriz, mas que não pode, ainda, demonstrar o talento. Robbie está lá para embelezar a tela, porque o papel poderia ser assumido por qualquer atriz.

No cast estão também Jim Broadbent e Djimon Hounsou: aquele como Primeiro-Ministro, este como Chefe Mbonga. Dois bons atores desperdiçados em papéis pequenos. Quanto a Samuel L. Jackson e Christoph Waltz, engana-se quem afirma que os dois interpretaram papéis em sua zona de conforto. Jackson e Waltz saem das personagens costumeiras e, analisando atentamente, trazem nuances diferenciadas em relação aos papéis pretéritos - porém, nada extraordinário. Coube a Jackson viver George Washington Williams, o braço-direito de Tarzan que o herói tinha acabado de conhecer. Williams aponta para uma preocupação humanitária sua e do governo estadunidense (que é conhecido por ser altruísta e pacificador), e a preocupação com a escravidão, se aprofundada, enriqueceria bastante o roteiro. Mas não: o George de Samuel é alívio cômico e (praticamente) só isso. Já é uma leve novidade para o ator, ao menos enquanto coadjuvante. O que marca sua participação é uma vulnerabilidade incomum para os coadjuvantes vividos por Jackson: comparando, por exemplo, com Nick Fury ("Vingadores"), que é onisciente e onipresente, George é muito mais limitado e humano (chega até a atitudes que ele mesmo consideraria humilhantes em outro contexto que não o da selva), o famoso "gente como a gente". Corajoso, mas tolhido pelas limitações inerentes à condição de ser humano (o que, paradoxalmente, não se dá com o protagonista). Claro, o carisma ímpar de Samuel L. Jackson agrega bastante à película, pois sua escolha não foi à toa. O mesmo não se pode afirmar de Waltz. O vilão Leon Ron começa apresentando traços de Richmond Valentine (ironicamente, interpretado por Jackson, em "Kingsman: Serviço Secreto"): na cena do prólogo, ele parece desconfortável com os tiros, aparenta não gostar de violência também ao se esconder embaixo de escudos, contudo, ele mostra que sabe se defender quando necessário, e sem dificuldade. Rom não é um lutador, mas, se preciso, luta contra quem estiver contra ele. Quanto a ele, duas observações ainda merecem ser feitas. A primeira é que Waltz finalmente interpreta um papel semelhante de forma diferente: embora o perfil de Rom seja bem similar aos vilões que se tornaram especialidade do ator, e que parecem ter iniciado com Hans Landa ("Bastardos Inglórios"), sua interpretação mais contida e bem menos empolgada, o que não é difícil de visualizar. Blofeld ("007 contra Spectre") é uma nova versão de Landa, o mesmo não se pode afirmar de Leon Ron, graças ao trabalho do ator. Enfim ele trabalhou. A segunda observação é a inteligente metáfora da hipocrisia de alguns religiosos que se amparam na religião para cometer atitudes que, em tese, seriam por ela condenadas. Por exemplo, pastores que enriquecem às custas de fiéis. É este o simbolismo de Rom ao usar um terço como arma.

Depois de quatro filmes da franquia "Harry Potter", David Yates opera uma direção ruim: o 3D é modesto; os planos costumam ter pouca nitidez por explorar o sol em demasia; há uma preocupação exacerbada com o didatismo; e a sutileza passa longe do filme. Não que Yates seja ruim, desta vez é que ele errou. Por que ser tão didático? Se o plot parte da premissa que a história básica de Tarzan já é conhecida, qual o motivo da narração intradiegética em que Jane explica a lenda do marido para George? Qual a razão para os terríveis flashbacks estruturalmente aleatórios? O primeiro é com fotografia esverdeada e narração voice over para distanciar do presente diegético; o segundo é uma lembrança pessoal (bastante subjetivo); o terceiro retoma a fotografia esverdeada e faz um rejuvenescimento em CGI tenebroso a partir da memória de outra personagem... não houve critério algum em tais cenas, a não ser o escopo inútil de "mastigar" eventos anteriores. O espectador já conhece a história, mas esqueceu? Da mesma forma, por que Tarzan abandona os trejeitos de lorde e volta à selvageria logo quando Jane é capturada (cena com George), para depois retomar a polidez? (Não que não faça sentido, só é contrário à sutileza que deveria ter) Sim, no geral, os enquadramentos são aceitáveis e existem cenas reconfortantes (a principal é a recepção do casal no Congo), entretanto, por outro lado, as cenas de ação são pavorosas - cortes incessantes, esquivar-se de mostrar impactos e bastante slow motion indicam coreografia ruim ou drible à censura de idade, ou ambos, como é provável no caso. Até mesmo os efeitos visuais não são um primor, especialmente ao comparar este longa com outro live action recente, "Mogli: o Menino Lobo" (imensamente superior no quesito). O uso de matte paintings pode enganar parcela do público, mas a artificialidade está lá.

Dito tudo isso, conclui-se que "A Lenda de Tarzan" é um filme que nasce de uma ideia ruim, mal executado e que resulta em um produto fraco. Tem algum entretenimento ali, no estilo "chiclete para o cérebro", mas nada que mereça grandes elogios. Não chega a ser ruim, não é ofensivo, nem deveras retrógrado. É apenas quase uma perda de tempo ("quase", afinal, cinema jamais é perda de tempo).

domingo, 24 de julho de 2016

A Última Premonição -- Cinema com Rapadura

A ÚLTIMA PREMONIÇÃO é um terror que, infelizmente, não aterroriza. Nota 4. Confira a crítica clicando aqui.

Chocolate -- Cinema com Rapadura

CHOCOLATE é um filme francês que aniquila aquele clichê segundo o qual "filme francês é chato". Trata-se de um longa exemplar e fascinante, dotado de várias virtudes - algumas delas você entenderá lendo a minha crítica (clique aqui para ler) no Cinema com Rapadura. Nota 8!!

Julieta -- Cinema com Rapadura

Confira no Cinema com Rapadura a minha crítica do excelente JULIETA, filme nota 8 do mestre espanhol Pedro Almodóvar: clique aqui!

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Caça-Fantasmas -- Obrigatório para quem gosta do estilo

Provavelmente a censura ao trailer de CAÇA-FANTASMAS seja onde resida uma das maiores idiossincrasias dos tempos atuais. A humanidade tem sim evoluído, o desenvolvimento ocorre em progressão geométrica. Contudo, a bobagem da reprovação prévia (antes de assistir) ao reboot, em especial em razão de escolherem mulheres como protagonistas, representa o quão imbecis algumas pessoas conseguem ser - e cruel, pois o racismo sofrido por Leslie Jones em seu twitter é moralmente repugnante. Aliás, qualquer discriminação de conotação negativa é repugnante. Nesse sentido, é pertinente mencionar que o protagonismo feminino é mero reflexo do contemporâneo, pois, hoje, a mulher mais e mais exerce funções em que antes não era admitida (por motivos vários). Todavia, a misoginia ainda existe, por mais lamentável que seja tal constatação. No caso específico deste filme, tanto faz: as quatro atrizes dão conta do recado, e com folga.

Feitas as necessárias observações preliminares, pode-se dizer que CAÇA-FANTASMAS é um filme razoável: possui alguns atributos positivos, mas nada que consiga revolucionar a sétima arte. Houve uma visível preocupação em respeitar o legado do original, o que prejudicou a criatividade na elaboração do roteiro. Ou seja, apesar de se tratar de um reboot, reiniciando a saga - cabe agora torcer para que não haja uma continuação, afinal, o desejável é inovação, não apenas renovação -, a verdade é que o argumento e a estrutura narrativa do longa de 1984 são repetidos em 2016. É mais ou menos o que fizeram com o Episódio VII de Star Wars: uma nova roupagem para as mesmas ideias. É evidente que o mote (caça aos fantasmas) seria inafastável, mas fato é que faltou criatividade para elaborar uma trama que fosse mais charmosa, em especial para o espectador que conhece o clássico. O que parece é que o script confundiu homenagear o original com plagiar o original. Assim, despiciendo afirmar que a construção narrativa é o calcanhar de Aquiles da película.

Importante ressaltar que "construção narrativa" é apenas um dos elementos do roteiro, que com ele (como um todo) não se confunde. Com efeito, a sequência que é dada ao enredo é previsível e um pouco entediante, pois tudo aquilo já foi visto - e, ainda que não fosse, é mais do que esperado, ou mesmo óbvio. No entanto, o roteiro tem dois pontos positivos (apesar deste grande aspecto negativo mencionado). O primeiro deles consiste nas boas piadas: nada genial ou hilário, mas um humor leve e palatável a um público heterogêneo (do tipo "Sessão da Tarde"). Nessa linha de raciocínio, percebe-se que não foi grande a ambição da fita nas minúcias do seu texto. Outro elemento positivo é a boa construção das personagens, que, ainda que unidimensionais isoladamente consideradas, apresentam boas interações. Em outras palavras, apesar de não passarmos a conhecer cada uma delas a fundo, elas são expostas o suficiente para que seja traçado um perfil básico, em especial em razão da atuação em conjunto do grupo.

Nesse sentido, a escolha do elenco principal é impecável. Algumas participações especiais são interessantes (como de Bill Murray e Sigourney Weaver, em tributo ao de 84), outras, nem tanto (a que Andy Garcia foi se submeter!?). Mas Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Leslie Jones e Kate McKinnon interpretam excelentes personagens principais. Tudo começa com Erin (Wiig), que vai atrás da "ex-amiga" ("ex" por afastamento natural) Abby (McCarthy) querendo exterminar do mercado o livro que escreveram em conjunto sobre fantasmas, e em razão do qual a promissora carreira de Erin fica ameaçada. Ao procurar Abby, Erin acaba conhecendo Holtzmann (McKinnon), responsável pelas invenções tecnológicas usadas nas pesquisas conduzidas ao lado de Abby, que ainda aposta nos fantasmas. E ocorre o óbvio: uma experiência com um fantasma real une as três para novas pesquisas. Patty (Jones) entra "de gaiato", quase que impondo a própria presença com o argumento de que conhece Nova Iorque mais que as outras e que, apesar de não ser uma cientista de conhecimento invejável como as demais (na verdade, ela trabalhava em um metrô), agrega à equipe em razão justamente do conhecimento sobre a cidade. A equipe fica completa com Kevin (Chris Hemsworth), personagem mais do que fascinante. Abby e Erin são motores da trama, e McCarthy e Wiig dividem bem o posto central, cada qual à sua maneira: a primeira, mais contida que o habitual, mas ainda divertida; a segunda, concedendo seriedade ao papel exceto ao interagir com Kevin, quando ela fica comicamente consternada. McKinnon faz um interessante trabalho de linguagem corporal, com postura despojada e nonsense, mas um pouco aquém das colegas no que se refere à interpretação (exceto, reitera-se, na linguagem corporal) e nas piadas. Leslie Jones é responsável pela personagem mais interessante do quarteto em razão de destoar das outras: diante de um marasmo de discursos pseudocientíficos (afinal, é uma ficção) e paixão pela paranormalidade, Patty representa a pessoa comum, "gente como a gente", que tem medo de fantasmas - aliás, é a única que foge de uma assombração - e que não domina temas como Gaiola de Faraday (dentre outros). Em síntese, Patty enriquece o plot muito mais que as outras, e o humor impresso por Jones dá o colorido necessário para a diversão. De todo modo, o quarteto junto é bastante afinado e consegue entreter de maneira satisfatória - a partir da proposta, evidentemente. Entretanto, por mais paradoxal que seja em um filme de mensagem subliminar ideologicamente feminista, o Kevin de Chris Hemsworth ganha os holofotes no pouco que aparece, tanto pela personagem em si quanto pelo trabalho de Hemsworth. Isso porque Kevin consiste na inversão de um estereótipo preconceituoso e ultrapassado (e que rendeu incontáveis piadas discriminatórias), pelo qual as mulheres loiras são bonitas e burras. Kevin cristaliza a mudança de paradigma por ser homem, bonito, loiro e burro - a crítica é inteligente, as piadas, engraçadíssimas. Algumas piadas até extrapolam o nível plausível da burrice, como a piada das lentes dos óculos, todavia, no geral, ele protagoniza as melhores piadas da película inteira, ao menos em termos de saldo. Mais do que isso, a escolha de um ator como Chris Hemsworth para o papel se revelou acertada porque pode explorar seu visual para a inversão paradigmática. O tradicional seria colocar, por exemplo, Scarlett Johansson (de cabelos loiros) como a secretária burra, mas preferiram um homem loiro (e também bonito) no papel. E a sagacidade vai além ao colocar Kevin como vítima de assédio sexual no trabalho (fato lamentavelmente comum para as secretárias), como cereja do bolo na crítica injetada ali. Enquanto Erin investe em um affair com ele (que nem percebe), o público se diverte, quando, na verdade, o cotidiano real não é daquela maneira e não é divertido.

O brilho de Kevin não apaga a ideologia feminista e a mensagem vanguardista do filme. Do ponto de vista ideológico, ao conceder o protagonismo a um grupo de mulheres, a mensagem simbólica que o longa passa é a de que as mulheres podem fazer tudo que os homens fazem, tão bem quanto ou melhor. A esperança indica que tais afirmações soem com naturalidade no leitor, porém, é cediço que nem todos pensam assim. Afinal, há um deputado brasileiro que defende que existem mulheres merecedoras de estupro e que as mulheres deviam receber salários menores (como se já não recebessem) porque podem engravidar (e com isso, em tese, lesar o empregador). Vale dizer, a igualdade que vem sendo conquistada pela mulher é uma luta constante que ainda sofre a resistência de alguns. Não se trata, pois, de retórica politicamente correta ou de ideologia orientada em um sentido predeterminado. Trata-se de humanização social, de um ponto de vista que privilegia uma sociedade perfeita, utopia que deve ser norte para todos. Relacionando especificamente com CAÇA-FANTASMAS, tirar homens do centro e colocar mulheres no "trabalho" outrora exclusivamente masculino é o símbolo da nova realidade, a que busca um mundo melhor, mais igualitário e menos discriminatório. Não consiste na destruição de um produto da infância, e sim da representação da realidade contemporânea, que não é a mesma de 1984. Um filme de 1984 reflete a realidade do seu tempo, ainda que o enredo seja praticamente o mesmo, um filme de 2016 deve ser atualizado. A mesma lógica se aplica ao secretário Kevin, crítica mais ácida à misoginia que impõe a incontáveis mulheres o sofrimento de violência não apenas física, como também moral e social, por exemplo. A pessoa que afirma sofrer desconforto na (representação da) realidade atual é o indivíduo retrógrado, preso em crenças e valores anacrônicos merecedores de abandono, que não aceita a (r)evolução social e que deveria isolar-se da sociedade caso insista em rejeitar este admirável novo mundo, única solução para tal problema. Sugestão para uma pessoa assim: aceita que dói menos.

Após mais uma breve digressão, retornando ao filme CAÇA-FANTASMAS (que não recebeu o artigo definido "as" em razão de uma provável covardia da distribuidora), Paul Feig faz um ótimo trabalho de direção. Em primeiro lugar, ao dominar o elenco e colaborar o timing cômico das cenas, o que é crucial numa comédia - com um roteiro melhor, este mesmo elenco faria um trabalho sensacional. Além disso, Feig é bastante eficaz nas filmagens das cenas de ação, que, todavia, poderiam estar em maior quantidade - na verdade, prevalecem diálogos e explicações dispensáveis que concedem à película uma morosidade desagradável, resultando em um filme longo e um pouco cansativo para o gênero. Há muita "gordura" que merecia ter sido "cortada", e uma montagem mais econômica teria sido mais eficaz. Ao invés de duas horas de projeção, uma hora e quarenta minutos seriam mais que suficientes. Enfim, é na linguagem 3D aplicada aos ótimos efeitos visuais que Feig esbanja talento: os efeitos visuais são eficazes na diegese (uma cena específica pode até assustar o espectador mais desatento - e é essa a intenção), e o 3D ativo e passivo alterna adequadamente, mas o extraordinário uso suave do fora-de-campo, mais precisamente o letterbox (faixas pretas na parte de cima e na de baixo da tela), é fantástico: ao sair do campo e ignorar a separação com o letterbox, o 3D amplifica a sensação de realidade vez que os elementos da tela extrapolam o campo, como se pudessem realmente sair dos limites da tela.

CAÇA-FANTASMAS não é um filme que deixará uma marca na história do cinema. Entretanto, pode ser nivelado por cima em razão da ótima direção, do excelente 3D, do elenco afinado e de alto nível e das piadas razoáveis. Se a narrativa decepciona, é possível encontrar no filme bons elementos que, a depender do gosto do espectador, poderão justificar o ingresso. Para quem gosta do estilo (e que não tem a mentalidade parada na Idade Média), é um filme obrigatório.

P.S.: o vilão é péssimo. Não chega a estragar o longa, mas prejudica a dinâmica. Também não ofusca o empoderamento feminino, mas reduz o impacto do heroísmo.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Florence - Quem é essa Mulher? -- Cinema com Rapadura

"Marguerite" foi um dos melhores filmes exibidos na presente temporada. O mesmo enredo gerou "FLORENCE - QUEM É ESSA MULHER?", produção entre Reino Unido e França que conta com Meryl Streep como protagonista (e Hugh Grant como seu marido). Como explico na crítica que você confere clicando aqui, "Marguerite" é muito melhor - porém, "Florence" também merece ser visto, porque um filme com Meryl Streep sempre merece ser visto.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Marguerite -- Cinema com Rapadura

Confira no Cinema com Rapadura a minha crítica de "Marguerite", filme francês aclamado com 4 prêmios no César (o Oscar francês). Dei nota 9, pois o filme é realmente espetacular. Clique aqui e entenda!

terça-feira, 5 de julho de 2016

Procurando Dory (e o curta-metragem PIPER) -- Animação divertida e agradável, mas inofensiva

Melhor que perguntar se é necessária é averiguar se a continuação é boa. Em geral, acaba sendo inferior ao longa anterior, especialmente quando não é planejada. Um grande hiato temporal também costuma ser prejudicial. No entanto, essas são ilações meramente teóricas que talvez nem tenham aplicabilidade no universo Pixar. É por isso que, apesar de soar simplista, a síntese desta crítica é cabível da seguinte forma: divertido e inofensivo, "Procurando Dory" é uma animação muito agradável.

Antes, porém, de verticalizar no principal, cabe mencionar que a Pixar (Disney-Pixar) exibe o curta-metragem "Piper" como precedente à obra principal, de qualidade ainda superior. "Piper" é pensado como um "aperitivo", mas supera o "prato principal". Dotado do que se poderia rotular como um "realismo fofo", o plot do curta-metragem de animação (pré-candidato ao Oscar, supostamente) é centrado em um pássaro bebê que descobre o mundo e seus desafios, precisando conseguir a sua própria comida para sobreviver, ainda que arrisque sua integridade. Em outras palavras, são animais fazendo o que a natureza lhes impõe, sem nada fantasioso - no máximo, numa visão edulcorada por um CGI de perfeição técnica impressionante. Com efeito, a praia e seus arredores (rochas, areia, água do mar, grama, ondas), além do que aparece no local (os pássaros, os caracóis etc.), são retratados com uma aparência tão real que flerta com o surreal (sabendo que os efeitos são computadorizados). É assim que a Pixar fascina ao recortar um episódio banal da vida de uma espécie de pássaro (um animal qualquer agindo como um animal qualquer) para fazer uma obra-prima de primeiríssima qualidade. Digno de aplausos!

É na mesma esteira de pensamento que se pode analisar o "prato principal". Preliminarmente, passaram-se os anos e a Pixar aprimorou ainda mais uma tecnologia que já era fantástica. Parece esquisita uma demora de mais de uma década para elaborar uma continuação (que, ao revés, se passa um ano depois), ainda mais depois do sucesso estrondoso de "Procurando Nemo". Não obstante, ainda que perca em relação à originalidade do predecessor, "Procurando Dory" não representa um caça-níquel como a imensa maioria das continuações forçadas. Em 2003, Nemo e sua turma encantaram em razão da dificuldade (à época) de se fazer uma animação totalmente digital em ambiente marinho. Se hoje a dificuldade é reduzida, a riqueza de detalhes no mar e nos animais suavemente antropomorfizados é magnífica. O reflexo de Marlin e Nemo no límpido mar estadunidense (numa área menos profunda) é exemplo da atenção que é concedida, justamente, aos detalhes. Quanto à antropomorfização dos animais, trata-se do oposto ao "Piper", enriquecendo a trama enquanto narrativa - porém, reduzindo a sobriedade visual.

Nesse ínterim, o prólogo é com uma fofíssima Dory ainda criança aprendendo com os pais o que acaba sendo essencial para a sua vida, resumida da seguinte forma: "oi, meu nome é Dory e eu sofro de perda de memória recente". Após várias elipses com Dory adolescente e adulta, ela se perde da família, conhece Marlin e o ajuda a encontrar seu filho Nemo, passando a conviver com eles, como uma nova família. Isso até se lembrar dos pais, momento em que decide assumir a difícil empreitada de encontrá-los novamente (difícil, afinal, de início ela não lembra sequer seus nomes). É quando Dory se separa de Marlin e Nemo que o título faz sentido, iniciando então duas linhas narrativas concomitantes (Marlin e Nemo versus Dory), com vários flashbacks (lembranças da infância com os pais) e participações especiais. Especificamente quanto às participações especiais, além de aparecerem "velhos amigos", novas personagens se tornam engrenagens narrativas relevantes, em especial o polvo Hank, personagem nova mais cativante ao constituir um pseudo-anti-herói interesseiro. Nemo continua sendo o aventureiro que cobra do pai postura mais audaciosa; Marlin continua sendo o pai super-protetor e super-cauteloso que foge de qualquer perigo hipotético, mas que acaba enfrentando-o quando necessário (pois Dory é uma amiga que merece tal enfrentamento); e Dory, agora protagonista, continua sendo a peixe cirurgião-paleta que ganhou a simpatia de gerações. Se houver um terceiro filme, porém, Hank aparece como melhor candidato a protagonista. A personalidade ambígua de Hank concede à trama maior fluidez e mesmo verossimilhança. Nemo é pouco significativo, Marlin é uma âncora de tédio e Dory é a vítima de si. Não havia como o polvo não se destacar.

No que se refere à dublagem brasileira, as principais vozes antigas permanecem, exceto a de Nemo - o que não afeta tanto, afinal, ele agora é coadjuvante menor. É bem verdade que a inusitada participação de Marília Gabriela é charmosa (não pelo trabalho em si, mas pelo papel), contudo, Antônio Tabet é gratíssima surpresa cedendo uma voz a Hank - melhor dizer "uma voz", e não "a sua voz", pois, ao contrário de Gabriela, Tabet não interpreta a si mesmo na dublagem.

Como é fácil perceber, "Procurando Dory" é uma animação de um gênero híbrido ao alternar momentos de ação, humor, aventura e mesmo drama. Serve para um público variado ao elaborar uma miscelânea tão plural. Ou seja, trata-se de uma mescla bem elaborada que mexe com as emoções do espectador em razão do trânsito nos gêneros. O viés de ação é o mais empolgante, ainda que cansativo, com direito a uma cena épica (quiçá a melhor do longa) moldada em slow motion e com a voz inconfundível de Louis Armstrong na imortal "What a wonderful world" (embora a versão de Sia para "Unforgettable" chame mais a atenção por surpreender mais). É Dory a responsável pela imensa maioria das piadas, todas pesadamente infantis e ingênuas (e quase todas em razão do seu problema de perda de memória recente). De modo geral, o argumento é do gênero aventura, tudo para justificar mensagens pueris (destaque para a valorização da família e dos amigos), sempre voltadas ao público infantil. A mensagem de valorização do meio ambiente, com ápice no "tanque do pavor", é salutar em tempos hodiernos, não há nada de errado, todavia, ao retrato inofensivo faltou uma acidez que seria mais digna de elogios - vale dizer, o longa torna-se quase insosso neste quesito. No olhar mais rigoroso, ao filme faltou uma pitada intelectual e reflexiva que as boas animações gostam de ter. Não se pode nivelar por baixo, não é?

Entretanto, não se pode afirmar que o filme é completamente raso. Os detalhes biológicos são curiosidades interessantes (como as anêmonas constituindo lares da espécie peixe-palhaço como Nemo e Marlin - ensinamento presente no primeiro filme -, a característica dos polvos de ter três corações etc.), mas eventualmente sem o rigor científico exigível, criando ilusões - as belugas até podem ter um senso de localização apurado, mas não naquele nível, a mesma lógica se aplica aos polvos, que se camuflam, mas não daquela maneira fantasiosa.

As anunciadas polêmicas que quase geraram veto ao filme não se concretizam. Não há nada que aponte para a transexualidade da arraia. Além disso, o possível casal de lésbicas é irrelevante, pois são figurantes que aparecem num piscar de olhos.

Como saldo, o que fica é que "Procurando Dory" é uma animação divertida e agradável, ainda que inofensiva. Perto de "Divertida Mente" ou "Zootopia", tão intelectualmente superiores, trata-se de uma animação menor. Não é ruim, não é uma animação qualquer. Apenas... faltou ambição. A Pixar pode mais, muito mais.