quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Estreias da semana -- 30/11/2017

A semana conta com dois filmes promissores, apenas isso.

ANTES O TEMPO NÃO ACABAVA
Drama brasileiro distribuído pela Livres Filmes.
SinopseAnderson é um jovem rapaz que possui raízes na etnia indígena saterê. Quando ele se muda e vai morar na cidade grande, começa a se ver preso entre os embates culturais das tradições do lugar de onde veio e os costumes urbanos.
Pré-conceito: modesto.


MEU CORPO É POLÍTICO
Documentário brasileiro de forte conteúdo ideológico.
SinopseA partir da intimidade e do contexto social dos personagens, o documentário acompanha o dia a dia de quatro militantes LGBT que vivem na periferia de São Paulo, levantando questões contemporâneas sobre a população trans e suas disputas políticas.
Pré-conceito: de público restrito e pouca visibilidade, ainda mais em razão do gênero (documentário).


SCREAMERS
Terror estadunidense com nomes pouco conhecidos.
SinopseDois gurus da Internet, Tom e Chris, transformaram seu site de vídeo viral em uma máquina de fazer dinheiro. Depois de receberem um vídeo de uma jovem num túmulo, tornando-se o vídeo mais visto no site, os dois descobrem que a garota no vídeo se parece com alguém que está desaparecida há anos e decidem investigar o caso.
Pré-conceito: restrito aos fanáticos pelo gênero.


YVONE KANE
Drama luso-brasileiro com Irene Ravache no elenco.
SinopseRita decide voltar ao país africano onde viveu depois da morte de sua filha, para investigar um mistério do passado: a morte de Yvone Kane, uma ex guerrilheira e ativista política.
Pré-conceito: desinteressante.


LAMPARINA DA AURORA
Suspense brasileiro distribuído pela Lume Filmes.
SinopseNessa fábula existencial sobre o tempo, o corpo e a natureza, um casal de idosos recebe a visita de um jovem misterioso todas as noites na fazenda abandonada em que passaram a viver.
Pré-conceito: sessão soneca.


THELMA
Drama dirigido por Joachim Trier coproduzido entre Noruega, França, Dinamarca e Suécia. Indicado pela Noruega para concorrer ao Oscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
SinopseApós se mudar para Oslo, uma estudante norueguesa vai passar pelos momentos mais estranhos de sua vida. Isso porque, inesperadamente, ela acaba descobrindo que tem poderes sobrenaturais e, para completar, está perdidamente apaixonada.
Pré-conceito: obrigatório.


COM AMOR, VAN GOGH
Filme biográfico coproduzido entre Reino Unido e Polônia, com Saoirse Ronan no elenco.
SinopseInvestigação apronfundada sobre a vida e a misteriosa morte de Vincent Van Gogh através das suas pinturas e dos personagens que habitam suas telas. Animado com a técnica de pintura a óleo do pintor holandês, os personagens mais próximos são entrevistados e há reconstruções dos acontecimentos que precederam sua morte.
Pré-conceito: indicado para quem tem interesse no artista.


ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE
Inspirado no livro homônimo de Agatha Christie, publicado em 1934 e nova versão do filme britânico de 1974 - que contava com ninguém menos que Ingrid Bergman (que ganhou o Oscar no papel de Greta Ohlsson) Sean Connery, Anthony Perkins (também conhecido como Norman Bates) e Jean-Pierre Cassel (pai do famoso Vincent), dentre outros grandes nomes. Agora, o filme é mantido como um suspense, mas em versão estadunidense, dirigida e protagonizada por Kenneth Branagh, interpretando o famoso detetive belga Hercule Poirot (antes vivido por Albert Finney).
SinopseVárias pessoas estão fazendo uma viagem longa em um luxuoso trem, porém, um terrível assassinato acontece. À bordo da composição o detetive Hercule Poirot que se voluntaria para iniciar uma varredura no local, ouvindo testemunhas e possíveis suspeitos para descobrir o que de fato aconteceu.
Pré-conceito: obrigatório.


PATTI CAKE$
Drama estadunidense distribuído pela RT Features.
SinopseUma aspirante a rapper de Nova Jersey luta pela improvável glória no cenário do hip hop. Enquanto recebe o apoio de sua vó e de amigos, ela também precisa ajudar a mãe, que passa por dificuldades.
Pré-conceito: desinteressante.


JOGOS MORTAIS - JIGSAW
Continuação da franquia clássica de terror.
SinopseDepois de uma série de assassinatos, todas as pistas estão sendo levadas a John Kramer, o assassino mais conhecido como Jigsaw. Conforme a investigação avança, os policiais se encontram perseguindo o fantasma de um homem morto há mais de uma década.
Pré-conceito: de novo? Não sabem a hora de parar?


OS PARÇAS
Comédia brasileira protagonizada por Tom Cavalcante.
SinopseChantageados e enganados por um ambicioso tranbiqueiro, Toinho, Ray Van, Pilôra e Romeu irão organizar uma festa inesquecível de casamento, mas sem nenhum dinheiro no bolso. Caso falhem, terão que lidar com o maior contrabandista da famosa rua 25 de Março em São Paulo, que é também o pai da noiva.
Pré-conceito: sessão tortura.


A ESTRELA DE BELÉM
Animação estadunidense.
SinopseUm pequeno e corajoso burro e seus amigos animais tornam-se os heróis improváveis e secretos do natal.
Pré-conceito: dificilmente cativa o público infantil.


CROMOSSOMO 21
Drama brasileiro distribuído pela Espaço Filmes.
SinopseVitória é uma moça com Síndrome de Down e leva uma vida completamente normal. Ela conhece o jovem Afonso, que não tem a deficiência, e a paixão é instantânea. Os dois vão iniciar uma história de amor que nenhuma diferença conseguirá abalar.
Pré-conceito: uma ideia doce não basta para fazer um bom filme.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Lola Pater -- Cinema com Rapadura

O argumento é interessante, o desenvolvimento, nem tanto. Clique aqui e confira a minha crítica de LOLA PATER, publicada no Cinema com Rapadura.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

A Vilã -- Roteiro ruim muitíssimo bem dirigido

Pensado para ser o novo "Oldboy", A VILàé um projeto de filme grandioso que não passa de um roteiro ruim muitissímo bem dirigido. Logo, não pode ser qualificado como grandioso, mas tem suas qualidades que merecem o devido reconhecimento.

A protagonista é Sook-hee, uma moça que, após ver o pai ser assassinado, é treinada como máquina de combate, tornando-se uma assassina altamente eficaz, sem jamais esquecer a morte do genitor, da qual planeja se vingar. Em um de seus atos, ela é capturada por uma agência para que continue trabalhando como assassina, durante dez anos, após assumir uma nova identidade. Encarcerada e grávida, ela se prepara para regressar à sociedade nos moldes pretendidos pela agência. Porém, seu passado faz questão de retornar.

É perceptível que o argumento do longa é interessante e se alinha à tendência ideológica contemporânea de dar maior espaço para as mulheres na ação (girl power). Nesse sentido, não apenas a protagonista é uma mulher, mas a chefe da agência também é, deixando os homens com funções meramente burocráticas. Porém, o roteiro é fraquíssimo em seu desenvolvimento, pois repleto de furos, quando não é óbvio (como na revelação final, pretensamente bombástica).

A vida de Sook-hee se torna um Big Brother, pois ela é constantemente monitorada pela agência. Entretanto, não existem explicações, tudo fica à margem da película, deixando uma imensa sutura para o público. É como se o espectador ficasse na mesma condição da personagem: a agência sequestra assassinas e as obriga a matar em troca de conceder futuramente a liberdade, simples assim. Detalhes como quem (realmente) lidera a organização, como existem tantas assassinas, dentre outros, não são apresentados. Isso significa que, no fundo, o texto é superficial, já que não pensa em acrescentar camadas à sua trama, simplificando em demasia a narrativa.

<<SPOILER ALERT! Um exemplo prático: uma maneira interessante de dar maior densidade à trama era justificar a razão pela qual o marido de Sook-hee era alvo. Se, por exemplo, ele fosse líder de uma agência de assassinos rival à que ela trabalhasse, faria sentido que a ordem fosse matá-lo, adicionando um ingrediente profissional coerente ao enredo. Outra hipótese seria usar o material do celular que Sook-hee hackeou com a colega de maneira benéfica ao plot. Ora, a cena é praticamente inútil à narrativa, salvo para (1) mostrar que ela não é tão fria quanto pode parecer e (2) retomar a rivalidade da outra assassina. Todavia, agregaria mais à narrativa se a chefe mostrasse que, no celular, haviam informações sobre o marido da protagonista. Para não prejudicar o andamento da trama, poderia ser ao final. FIM DO SPOILER>>

O roteiro não pensou em ser bem construído, no máximo, preocupou-se em não ter incoerências gritantes - realmente, não tem. Episodicamente, faz um mosaico sobre a própria protagonista, mediante flashbacks que explicam sobre os traumas de sua infância e seu treinamento, contribuindo para a compreensão da sua personalidade. Porém, nada muito problematizador - melhor dizendo, nada muito complexo.

O segundo ato conta, surpreendentemente, com um gigantesco arco romântico: o plot da fria assassina em busca de vingança pela morte do pai é esquecido para dar lugar a um romance pouco convincente, ainda que bastante edulcorado. É quando a ação é diminuta, eventualmente esquecida, tornando a película menos interessante, já que não vocacionada a esse viés. Até porque existem furos no romance: <<SPOILER ALERT! nas aparências, o novo marido a aceita como ela é, sem saber o que ela faz (em tese, ela não revelou); da mesma forma, ela também não sabe exatamente o que ele faz. Porém, os dois disseram que não são o que fingem ser. Como seria mantido esse matrimônio? No momento que revelam um para o outro que têm segredos, não deveriam revelar os segredos? FIM DO SPOILER>>

Com tantos aspectos falhos, ainda assim o filme é muito bom graças à direção soberba  de Jung Byung-Gil. A título exemplificativo, o próprio prólogo já merece uma análise detida: sem se preocupar com explicações, inicia um enorme plano-sequência de matança, a primeira parte filmada em câmera subjetiva, cuja vantagem é facilitar a imersão do espectador - todavia, restringe a visualização da ação. A personagem usa mais de uma arma na luta, sendo clara a progressão na medida em que aumenta o sangue, a música e as mortes. Em determinado momento (genial!), a filmagem muda para câmera objetiva, humanizando a personagem, porque finalmente é possível visualizar que ela também é vulnerável aos golpes, de modo que a luta também fica enriquecida, já que os movimentos são vistos por completo - isto é, perde-se na imersão, ganhando na abrangência (visão mais global da ação). É um plano-sequência sensacional, com clara referência ao clássico "Oldboy", mas consciente da necessidade de inovar - tanto é assim que muda para a câmera objetiva quando a subjetiva começa a ficar monótona. As demais cenas de ação sempre conseguem manter altíssimo nível, seja com planos longos (como na cena do túnel, em que Sook-hee enfrenta dois homens em uma luta de espadas, os três em motocicletas), cenas fortes (violência na presença de uma criança) ou com cenas criativas (a protagonista chega a se pendurar com um machado na frente de um carro que ela estava dirigindo, após ter sido atropelada pelo mesmo carro, antes conduzido por outra pessoa). O plano-sequência no final também é digno de menção, pois está à altura da adrenalina do longa. Byung-Gil também não olvida técnicas clássicas, como sangue jorrando na tela.

"A Vilã" não se consagrará como clássico sul-coreano, mas certamente será apreciado pelo público apreciador de bons filmes de ação. Para quem gosta de filmes bem dirigidos, é obrigatório.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Estreias da semana (23/11/2017)

Resumidamente, a semana tem quantidade e qualidade.



OS GOLFINHOS VÃO PARA O LESTE

Comédia dramática coproduzida entre Uruguai, Argentina e Alemanha.

Sinopse: Miguel Angel Garcia Mazziotti, figura gay decadente do showbiz no Rio de la Plata, recebe a visita de sua filha Virginia, de quem se manteve afastado por anos. "El Gordo", como o chamam em Punta del Este, rejeita abertamente a visita da filha mas, ao saber que vai se tornar avô, não consegue controlar a emoção e acaba cedendo e participando da felicidade de Virginia.

Pré-conceito: dispensável.


POR QUE VIVEMOS

Animação japonesa.

Sinopse: No Japão, um jovem camponês vive com sua esposa, que está grávida. A mulher acaba falecendo em um acidente, deixando o homem revoltado com o mundo. Sem saber lidar com a perda, ele decide participar da palestra de um monge budista.

Pré-conceito: restrito ao seu público.


LYGIA, UMA ESCRITORA BRASILEIRA

Documentário brasileiro sobre Lygia Fagundes Telles.

Sinopse: O documentário mostra a trajetória de vida da escritora Lygia Fagundes Telles.

Pré-conceito: também de público restrito.


BARREIRAS

Drama coproduzido entre Bélgica e Luxemburgo, com a recém indicada ao Oscar Isabelle Huppert no elenco.

Sinopse: Catherine volta, depois de dez anos, a Luxemburgo para rever a filha Alba, criada por sua mãe, mãe de Catherine. Alba age de forma fria e distante com essa estranha que aparece inesperadamente em sua vida, assim como Elisabeth, que deseja proteger a neta. Catherine, então, decide sequestrar Alba.

Pré-conceito: não parece promissor, exceto pela sempre excelente Isabelle Huppert.


A VILÃ

Filme de ação sul-coreano.

Sinopse: Uma menina treinada desde a infância para ser uma assassina sanguinária aceita um acordo de trabalho que a libertará do árduo ofício depois de dez anos de serviço. Mas mesmo depois de cumprir o prazo e começar a trilhar uma rotina normal, dois homens aparecem e a colocam de frente com seu passado.

Pré-conceito: vale ser visto.


RÚCULA COM TOMATE SECO

Comédia romântica brasileira com elenco pouco conhecido.

Sinopse: Pablo e Susana tiveram um relacionamento de três anos e, após seis meses de separação, e nenhum tipo de contato, o casal tem uma recaída e passa a noite juntos em um motel. Sozinhos entre quatro paredes, eles irão questionar o que os levou ao final da relação, mexendo com feridas que talvez não estejam completamente cicatrizadas. 

Pré-conceito: sessão tortura.


NINGUÉM ESTÁ OLHANDO

Drama coproduzido entre Brasil e Argentina.

Sinopse: Nico é um ator argentino que tomou uma decisão que pode mudar sua vida para sempre: após romper de maneira abrupta o relacionamento às escondidas que tinha com Martin, seu produtor na série de TV "Rivales", decidiu abandonar sua carreira promissora para começar do zero em Nova York.

Pré-conceito: não consegue ser promissor com uma sinopse tão genérica.


QUANDO O GALO CANTAR PELA TERCEIRA VEZ RENEGARÁS TUA MÃE

Suspense brasileiro de nome inusitado (não é mesmo?).

Sinopse: Inácio é porteiro na Zona Sul do Rio e seu pai, Guilherme, foi zelador e assegurava o emprego do filho e o apartamento da família no prédio. Mas Guilherme está morrendo e sua esposa se ressente por cuidar de um inválido e ele não pode mais administrar Inácio, esquizofrênico funcional. Com a morte de Guilherme, a obsessão de Inácio por um morador torna-se perigosa. A relação entre mãe e filho torna-se insustentável.

Pré-conceito: desinteressante.


LOLA PATER

Comédia dramática franco-belga.

Sinopse: Após a morte de sua mãe, Zino decide reencontrar seu pai, Farid. Mas, há 25 anos, Farid virou Lola. 

Pré-conceito: contemporâneo e potencialmente irreverente, pode ser muito bom.


GABEIRA

Documentário brasileiro.

Sinopse: Documentário sobre a trajetória do jornalista e político Fernando Gabeira. Com depoimentos de Armínio Fraga, Nelson Mota, Agnaldo Silva, Leda Nagle entre outros.

Pré-conceito: mais um de público restrito.


NÃO DEVORE MEU CORAÇÃO

Drama brasileiro com Cauã Reymond.

Sinopse: Joca, um menino brasileiro de 13 anos, e Basano La Tatuada, uma menina indígena paraguaia, vivem na fronteira entre os dois países. Joca está apaixonado por Basano e busca fazer de tudo para conquistá-la, mesmo que para isso ele tenha que enfrentar as violentas memórias da Guerra do Paraguai e os segredos de seu irmão mais velho. Inspirado em contos de Joca Reiners Terron.

Pré-conceito: outro desinteressante.


PAI EM DOSE DUPLA 2

Comédia hollywoodiana com elenco estelar (Will Ferrell, Mark Wahlberg e Mel Gibson).

Sinopse: sequência da comédia de 2015, "Daddy's Home".

Pré-conceito: sessão tortura (2).


BONECO DE NEVE

Clique aqui para ler a minha crítica, publicada no Cinema com Rapadura.


A FILOSOFIA NA ALCOVA

Drama brasileiro.

Sinopse: Baseado na obra homônima de Marquês de Sade, e publicada clandestinamente no final do século dezoito, traz uma narrativa que trata sobre a educação sexual de uma jovem virgem, Eugénie, que aprende as artes da libertinagem através dos ensinamentos e experiências de Dolmancé e da senhora de Saint-Ange.

Pré-conceito: apesar da sinopse, dificilmente quebrará paradigmas.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Boneco de Neve -- Cinema com Rapadura

Estreia amanhã nos cinemas o ótimo suspense BONECO DE NEVE. Clique aqui para ler a minha crítica, publicada no Cinema com Rapadura.

Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha -- Cinema com Rapadura

Confira, clicando aqui, a minha crítica de VICTORIA E ABDUL - O CONFIDENTE DA RAINHA, publicada no Cinema com Rapadura. O filme já está em cartaz!

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Liga da Justiça: nada memorável

A Warner/DC abandonou a premissa séria e – à medida do possível – realista do seu universo estendido, iniciada com “O Homem de Aço”, para fazer de LIGA DA JUSTIÇA um filme de herói leve, engraçado, cheio de ação e efeitos e raso no conteúdo. É assim que são feitos os outros filmes de heróis, é isso que o público e a maioria da crítica gosta, então melhor não nadar contra a corrente. O objetivo de fazer um produto genérico e obsoleto, entretenimento fugaz, frívolo e descerebrado, como os demais filmes de heróis, foi atingido com maestria. O que não necessariamente é positivo.


Não que o filme seja ruim, não é bem assim. Mas também está muito distante da boa qualidade. “O Homem de Aço” trazia à tona questões existenciais sobre paternidade, função no mundo e vingança. “Batman vs. Superman” questionava a idolatria desmedida – algo surreal apenas para pessoas de mentes pequenas, parafraseando Luthor – e propunha uma reflexão sobre a justiça colocada em prática. “Esquadrão Suicida” é um lixo cinematográfico. E “Mulher Maravilha” é a primeira produção a colocar nos holofotes uma figura feminina capaz de tomar as rédeas da ação e mostrar que mulheres podem protagonizar o que quiserem.


Por outro lado, “Liga da Justiça” é um filme sem substância, que se justifica puramente para reunir o grupo de super-heróis para enfrentar um grande vilão, em meio a muita ação e algumas doses (antes não vistas no DCU) de humor – isto é, sem nenhum subtexto intelectual. Qualquer filme, enquanto manifestação artística, precisa estimular a reflexão, caso contrário, representa um vazio oco que desperdiça a vida dos envolvidos. Cabe reiterar, todavia, que o longa não é o descalabro do nível “Esquadrão Suicida”, em que tudo é pavoroso (exceto a maquiagem). “Liga” não é ruim, só é fraco.


O enredo é singelo: a morte do Superman abalou a humanidade, despida de esperança e prestes a ser atacada por um alienígena impiedoso, que agora sabe que o kriptoniano não pode mais proteger o planeta. Na iminência do perigo, Batman/Bruce Wayne e Mulher Maravilha/Diana Prince tentam angariar aliados para enfrentar o vilão. É um antagonista desinteressante, já que Steppenwolff é uma capa de CGI, inclusive na voz, tendo um escopo unidimensional, sugerindo que é apenas um peão no tabuleiro (pois trabalha a mando de Darkseid, verdadeiro antagonista da Liga, caso a DC pretenda prosseguir).


Diana e Bruce continuam no mesmo ritmo empregado por seus intérpretes Gal Gadot e Ben Affleck, aquela visivelmente em melhor desempenho. Ray Fischer é uma novidade monótona como Ciborgue e Jason Momoa é promissor como Aquaman/Arthur Curry. Ezra Miller tem bastante espaço para fazer de seu Flash o palhaço do grupo: Barry Allen é conhecido por ser extremamente inteligente, essa versão flerta com a deficiência intelectual, mas é inegavelmente engraçada, sem tornar o filme uma comédia. Henry Cavill teve dessa vez um desafio maior: Superman não era um papel desafiador, já que as emoções que envolvia eram sempre as mesmas. Agora, contudo, o ator precisou demonstrar novos sentimentos, coerentes – ao menos no início – com o contexto, dando conta da tarefa. Nada disso é spoiler, pois sua aparição é certa.


SPOILER ALERT << Existem, contudo, dois problemas na participação do Superman. Primeiro, a forma como ele volta é incoerente: em “Batman vs. Superman”, sugere-se que seu retorno será natural, o que não ocorre. Segundo, embora seja elogiável finalmente mostrarem um pouco mais do seu potencial (por exemplo, o sopro de gelo), parece que ele retorna com uma personalidade arrogante, o que definitivamente não se coaduna com o icônico super-herói que todos conhecem, ideal de perfeição. Não faz sentido que ele use seus poderes por exibicionismo, chamando o Flash de “lerdo”. A corrida entre os dois existe em uma HQ, porém, tem finalidade altruística. Esse Superman ególatra não é o verdadeiro Superman. >> FIM DO SPOILER


Apesar do imbróglio referente à direção, resultado de uma tragédia pessoal, o que importa é o crédito: se o estúdio creditou o filme a Zack Znyder, foi ele o diretor, pouco importando se Josh Whedon dirigiu algumas cenas. É visível que o visual sombrio, típico de Znyder, continua presente, porém, atenuado, sendo talvez possível especular quem dirigiu qual cena. Ainda assim, o filme é de Znyder.


Existem ótimas cenas de ação, como a que Steppenwolff enfrenta as amazonas: sem excesso de cortes, com toda a dinâmica visível e adrenalina na medida certa. Entretanto, o CGI exagerado é prejudicial em outras cenas, como uma sequência em um cenário avermelhado, muito poluído, confuso e cansativo, de visual grosseiro. Quando usado moderadamente, os efeitos digitais são benéficos, como o slow motion nos momentos em que Flash corre na speedforce, o que não chega a ser novidade no cinema – sequer em filmes de heróis, vide a franquia “X-Men” com Mercúrio –, mas é fascinante quando bem feito.


“Liga da Justiça” não tem intelecto/conteúdo, tampouco emoção, problema resultante da direção e do roteiro. O risco, porém, era calculado e decorrente, a rigor, da proposta. O intuito do longa era reunir super-heróis que trabalhassem em equipe e mostrassem seus poderes. Apenas isso. Que falta de ambição! É uma pena que a Warner/DC agora opte por imitar os concorrentes, produzindo filmes esquecíveis e cinematograficamente irrelevantes. As pessoas podem até ter ressalvas sobre “O Homem de Aço” e “Batman vs. Superman”, mas são filmes difíceis de se esquecer. Não se pode dizer o mesmo de “Liga da Justiça”, que não tem absolutamente nada de memorável. 

quarta-feira, 1 de novembro de 2017