quinta-feira, 23 de junho de 2016

Como Eu Era Antes de Você -- É possível trilhar novos rumos

Quando se fala em romance, logo se pensa em um nome: Nicholas Sparks. Ele é, de fato, o grande nome atual na área, com muitos livros que se tornaram filmes. Todos iguais, com casais belos e felizes apesar dos contratempos. Muito padrão, muito clichê, muito chato. Jojo Moyes é um nome muito menos conhecido, mas foi responsável pelo livro e pelo roteiro do agora filme "COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ", que, se, não é uma obra-prima da sétima arte, é honesto e fiel em relação às próprias premissas. Um pseudo-romance levemente dramático nota 6.

Nesse sentido, é no roteiro que residem os trunfos e também os defeitos do longa. Considerando que a autora do livro no qual a película se baseia é também a roteirista desta, os defeitos referidos estão em ambos. É provável que o livro seja melhor, como costuma acontecer nas adaptações, mas a análise aqui é exclusivamente fílmica. Nesse quesito, o problema nuclear é o tratamento raso da delicada questão do suicídio assistido. Trata-se de uma temática complexa que por si só afasta uma solução peremptória - leia-se, uma verdade absoluta. A censura de associar a tetraplegia a uma condição de vida tão infeliz a ponto de se querer o suicídio faz sentido, mas a matéria é complicada demais para julgar a vontade alheia. Ainda mais no caso de Will, que levava uma vida bem ativa antes do acidente. No caso do filme, o suicídio assistido está lá, mas não é aprofundado em momento algum. Seria salutar que as personagens discutissem o tema, mas o plot limita-se no básico: Will quer, quem gosta dele não quer - exceto o pai, por respeitar a sua vontade e a sua autonomia. A abordagem é demasiadamente rasa, ficando aquém do que deveria. Surpreendentemente, também não são arrebatadores os momentos românticos do casal, vez que Will está constantemente desanimado. Eles têm momentos felizes e românticos, mas longe daquela paixão estridente que a sétima arte costuma retratar. Falta contundência, falta construção em camadas.

Aliás, falta densidade também na construção da personalidade de Will, o que, inclusive, prejudica a identificação cinematográfica secundária (sensação psíquica em que o espectador se coloca no lugar da personagem). Não é possível comprar o objetivo de Will, o suicídio assistido, porque não se sabe o seu sofrimento para além do óbvio. Que vida levava antes? O quanto sofre agora? Pouco disso é de conhecimento do espectador, que precisa fazer uma imensa sutura (trabalho psíquico em que o espectador supre eventuais lacunas - em geral, plausíveis - do roteiro). Ninguém se afeiçoa por Will porque a personagem é unidimensional. Isso até facilitou o trabalho do ator Sam Clafin, que, para além da restrição dos movimentos, mantém sempre o mesmo tom de voz e a expressão de indiferença. Ou seja, uma interpretação que uma máquina faria com a mesma qualidade.

Se do casal Will é o elo frágil, o mesmo não se pode dizer de Lou, que tem um carisma imensurável. Não existem grandes cenas emblemáticas, a que chega mais perto é a da empolgação na corrida de cavalos, que chega a ser contagiante. Não obstante, a destreza de Emilia Clarke no papel faz com que Louisa encante em tudo que faz. Como não se maravilhar diante da garota que arranca a etiqueta da camisa de Will com os dentes, sem se importar com a formalidade do evento? Negar seu carisma significaria insensibilidade absurda. É bem verdade que o viés infantil e desastrado atribuído à personagem incomoda pela exposição infantil, mas isso é culpa da direção, não da atriz. É por isso que ela, atrapalhada, rasga a saia na entrevista, derruba objetos ao adentrar em um recinto e assim por diante - o próprio Will a satiriza em razão do seu jeito (que não deixa de ser encantador). Enfim, Clarke imprime em Louisa um carisma fenomenal em razão do qual um simples sorriso pode ser extasiante. Porém, no drama, ela não convence, sempre soando artificial nos momentos ruins que a personagem sofre.

Dos coadjuvantes, os pais de Will, vividos por Janet McTeer e Charles Dance têm aparições pequenas. Diversamente, Stephen Peacocke interpreta Nathan, enfermeiro de Will, aparecendo bastante e de forma competente - o australiano parece promissor. Contudo, é Matthew Lewis o coadjuvante de maior destaque. Lewis, o eterno Neville Longgbottom, atua como Patrick, o realista namorado ególatra de Louisa. Nada romântico, chega atrasado para o aniversário dela e a entrega um presente risível (Will o vence, nesse caso). Pat é tão obcecado por exercícios que chega a elaborar metáforas com base neles. Restrito, só consegue falar com a namorada para enaltecer sua característica de atleta, tamanha a sua obsessão dedicação. O triângulo amaroso que se poderia concluir praticamente inexiste, pois ele detém o título de namorado, nunca fazendo jus a ele. De todo modo, surpreende Neville Lewis aparecendo (e convencendo) como atleta.

Como se percebe, o roteiro tem obviedades e superficialidades, mas não é clichê na narrativa ao fugir da visão platônica do romance (esta é sua grande virtude). Ao revés, o casal Lou-Will tem momentos infelizes e decepcionantes, como o fracasso em adentrar em um restaurante e o passeio ruim na corrida de cavalos. Com Will e Lou, nem tudo são flores, nem tudo é perfeito, o que evoca um paradigma mais realista e crível. Isso é salutar porque os romances hollywoodianos costumam criar universos diegéticos surreais e irritantes frágeis, de tão perfeitos. A vida a dois jamais é perfeita, conclusão óbvia em razão do natural atrito da interação humana - sem contar o imprevisto e o acaso. O gatilho narrativo da simpatia de Will por Lou quando ela o enfrenta some diante de uma diegese tão plausível. "A Culpa é das Estrelas" segue a mesma esteira, embora, como produto final, seja muito melhor.

O que acaba prejudicando bastante "Como Eu Era Antes de Você" é a fraca direção da inexperiente Thea Sharrock. Exemplo: um prólogo que inicia com visual claro (ênfase no branco), como roupa de cama, decoração e camisa de Will brancas e que se encerra com seu atropelamento na chuva. Planos que se passam na chuva depois dos planos perfeitos indicam o que se torna ululante: algo ruim vai acontecer. Conclusão? A diretora não sabe ser sutil, não conhece o poder da sugestão no cinema. É por isso também que Lou rasga a saia na entrevista de emprego, ou que Will aparece de barba e cabelo compridos (e depois muda). A mensagem é tão explícita que subestima o espectador. Certamente foi orientação da diretora o figurino assustador de Clark, com escopo de evidenciar sua cafonice. Não é necessário ter grandes conhecimentos de moda para perceber o quão brega ela é ao se vestir - o que, por outro lado, também coloca holofotes na sua personalidade marcante. Uniu-se a tudo isso uma trilha sonora cool e cenários belíssimos, mas nada mais que chame a atenção.

Por tais fundamentos não se pode afirmar que "Como Eu Era Antes de Você" é ruim. Mas também não é bom. Trata-se de um filme comum que, se não mexe com as emoções do espectador, cumpre a tarefa de entreter e talvez estimule um pouco a reflexão. Ainda mais importante, aponta no caminho de um realismo aprazível ao agradar certo público. Isto é, mostra que é possível trilhar novos rumos neste segmento um pouco defasado. O futuro parece promissor.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

O Dono do Jogo -- Cinema com Rapadura

O DONO DO JOGO já saiu de cartaz em muitos cinemas, na verdade, é uma produção modesta de 2014. Só agora escrevi a sua crítica, publicada no Cinema com Rapadura. Filme nota 4. Para compreender, clique aqui e leia a crítica.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Alice Através do Espelho -- Cinema com Rapadura

Continuação do filme de 2010 ("Alice no País das Maravilhas"), teve alguma evolução e suaves aprimoramentos. Mas não no aspecto narrativo, que é bastante frágil. O longa se salva pelo esmero visual, apesar do exagero no CGI. Entenda melhor lendo a crítica ao clicar aqui.

Pais e Filhas -- Cinema com Rapadura

Filme nota 3! Tem um bom elenco, mas PAIS E FILHAS não se sustenta em razão da pieguice exagerada e da vontade notória de comover a qualquer custo. Confira clicando aqui.