quinta-feira, 18 de maio de 2017

Rei Arthur - A Lenda da Espada -- Cinema com Rapadura

Estreia hoje REI ARTHUR - A LENDA DA ESPADA, podendo-se afirmar que o filme é um blockbuster acima da maioria. Caso queira entender o motivo, clique aqui e confira a minha crítica sem spoilers, disponível no Cinema com Rapadura.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Alien: Covenant -- Metade da qualidade

Para quem é fã da série "Alien", provavelmente o novo filme vai agradar. É um filme de fan service, o que não é necessariamente bom. ALIEN: COVENANT não se preocupou em ser bom.

A palavra "Covenant" faz referência à nave que leva a tripulação e a colônia que procura um novo planeta para ser colonizado. O grupo acaba descobrindo, a partir de uma pista misteriosa, um planeta que parece ideal para seus objetivos, quando, na verdade, o lugar é muito mais perigoso que parece.

Exceto pelo prólogo, falta inteligência ao filme. Na cena inicial, há um embate ficto entre criador e criatura, com referência expressa às artes, nomeadamente à música e à escultura. Em interpretações muito boas, Guy Pearce e Michael Fassbender dão a entender que o filme propõe questões existenciais, o que infelizmente não é o caso. Aliás, quando Michael Fassbender é o que o filme tem de melhor, certamente o que há de bom é pouco. Não que ele seja ruim, é apenas um ator ordinário, muito distante do brilhantismo que alguns defendem. Aqui, ele está bem melhor que os demais, pois "em terra de cego, quem tem um olho é rei". Esperto foi o James Franco, que faz uma pequena participação especial para não ser creditado na íntegra da fraca obra.

O grande defeito do filme reside no roteiro, sem dúvida equivocado em vários quesitos. A construção das personagens é ruim, formando personagens ocas cujas personalidades são completamente despidas de significado. Por exemplo, Danny McBride interpreta Tennessee, um cowboy espacial que não recebeu sequer um nome no script, renegado a um apelido que resume todo o seu conteúdo, enfatizado por um chapéu, para não deixar dúvidas quanto à sua origem. Katherine Waterston vive Daniels, que seria a nova Ripley, se tivesse ao menos uma das suas virtudes. Waterston não tem uma fração do talento de Sigourney Weaver, e Daniels só consegue alguma afeição do público porque o plot a faz vulnerável desde o princípio. Porém, a expressão de paisagem da atriz insiste em militar em desfavor da personagem.

Com subtramas frágeis e esquecidas, o roteiro vira pretexto para o desenrolar de uma narrativa superficial que finge dar uma origem à icônica criatura que dá nome ao título. No final, um plot twist previsível e entediante que só não envergonha a franquia porque "Prometheus" conseguiu ser pior. Em "Covernant", Ridley Scott dá um passo à frente em relação ao prequel antecessor, investindo em mostrar mais a asquerosa criatura (daí a ideia de muito fan service). Não são poucas as cenas asquerosas, que, teoricamente, entrariam no gênero terror, todavia, o filme não se decide se quer ser sci-fi ou terror, resultando ineficiente nas duas áreas. Como sci-fi, em nada acrescenta neste campo, que notoriamente se tornou terreno fértil para obras aclamadas como "Interestelar" e "Gravidade". Como terror, o fator surpresa que o Alien causaria é inexistente, embora o asco de algumas sequências surpreenda pela falta de pudor. De forma geral, as melhores cenas estão no trailer, que dá a entender um produto melhor que a publicidade (o que não é novidade, é verdade).

Scott é um diretor capaz de conduzir bons filmes e isso já ficou provado. Entretanto, sua obra completa tem altos e baixos, do que se conclui que o cineasta não é um nome confiável. Em "Covenant", existe, por exemplo, uma cena delicada em que Fassbender atua consigo mesmo, na contraluz: é um momento artisticamente belo, bem filmado, mas contraproducente em relação ao escopo do longa. As cenas asquerosas, por outro lado, contribuiriam muito mais para o objetivo final, se houvesse um roteiro bem desenvolvido. E a ação desnorteada aproxima Alien de um slasher da década de 1990, o que é vexatório. Claro que poderia ser pior, afinal - não custa reiterar-, "Prometheus" consegue a proeza de ser pior, pois é um marasmo dentro de uma franquia conhecida pela sua adrenalina singular. Ao que parece, já foi confirmada uma continuação. Quem sabe daqui dez filmes cheguem à metade da qualidade de "O Oitavo Passageiro".

terça-feira, 9 de maio de 2017

Corra! -- Cinema com Rapadura

CORRA! é um thriller raro, daqueles que aparecem pouco nos cinemas. Imperdível para quem gosta do gênero, um raro nota 9. Clique aqui e confira a minha crítica, publicada no Cinema com Rapadura.

sábado, 6 de maio de 2017

A Autópsia -- Terror não precisa ser estúpido

O terror é um gênero que tem um público bastante fiel, porém, limitado. Isto é, são poucas as pessoas neutras em relação ao terror, que funciona como "ame-o ou deixe-o". Um argumento que milita em favor dos que não gostam do gênero é que, no geral, são filmes sem inteligência, mal elaborados (em especial no quesito roteiro) e desconfortáveis. Essa lógica será repetida neste texto, pois a lógica de A AUTÓPSIA é justamente a oposta.

Na trama, Tommy (Brian Cox) e Austin (Emile Hirsch) Tilden, pai e filho, trabalham em um necrotério em uma pequena cidade. A tranquilidade da sua rotina é abalada quando precisam analisar o corpo de uma mulher de identidade desconhecida, cujo corpo tem vestígios incomuns. Quanto mais eles investigam, mais coisas estranhas acontecem.

É perceptível que se trata de um roteiro original repleto de mistério, duas virtudes que servem como atrativo logo de início. Quem é a moça? Qual a razão da sua morte? Qual a relação entre a autópsia e os estranhos acontecimentos? O texto acerta ao manter sigilo quanto à revelação concernente ao mistério, isto é, ao invés de explicar os eventos paranormais já na metade do filme, aterrorizando o público (através das personagens) na outra metade, a obra prefere deixar tudo sem explicação durante mais tempo, sem olvidar o terror. E a revelação não decepciona, embora a facilidade com a qual as conclusões são tiradas seja incômoda - ou seja, a explicação é interessante e plausível (para um filme de terror, é claro), mas as personagens chegam a ela com muita rapidez. Também a contradição no desfecho desagrada, entretanto, isso tudo é apenas o encerramento do filme.

Por outro lado, apesar de ser um longa de terror, há uma fuga à simplicidade intelectual - ou seja, falta de conteúdo - que costuma prevalecer no gênero. Ao contrário dos demais, "A Autópsia" tem subplots realistas que combinam com o plot que, inicialmente, também é realista. O plot é o enredo de pai e filho que trabalham juntos no necrotério, empresa da família, este ajudando aquele. Brian Cox interpreta o pai tranquilo e carinhoso à distância, que permite que o filho se ausente do trabalho para sair com a namorada, não conseguindo se abrir sobre um trauma familiar que soa como um espírito que os assombra. Emile Hirsch vive o filho zeloso e preocupado, que não consegue deixar o pai trabalhando sozinho. Cox e Hirsch dão naturalidade à interação entre os dois, que são papéis estereotipados, mas coerentes para um filme de terror que representa uma cidade pequena e pacata. Tommy (Cox) é o médico respeitado e experiente, pai viúvo e aguardando passar a empresa para as mãos do filho. Austin (Hirsch) é o jovem apaixonado e inexperiente, ainda incerto quanto ao próprio futuro - tema que deveria ter sido aprofundado, ficando apenas na superfície - e com muito a aprender sobre o trabalho que exerce. Este, um namorado protetor, não querendo que sua namorada veja um cadáver. Aquele, um homem que vai ao cinema assistir a "Diário de uma Paixão" obrigado pela esposa, mas dorme nos primeiros cinco minutos. Personagens arquetípicas, condição aceitável, como dito, em se tratando das circunstâncias.

O que não é aceitável é o equívoco quanto ao clímax, que acaba sendo adiantado para um terceiro ato aquém do restante da obra, como já mencionado. Ainda assim, em se tratando de um filme de terror, a referência ao clássico "O Iluminado" provavelmente já serve de exemplo para demonstrar que a obra quer ser algo mais que um número na extensa lista de filmes de terror. É por isso que André Ovredal fez um ótimo trabalho na direção, melhor que a maioria dos longas do gênero. Sua obra é bastante realista e sem pudor nas cenas de autópsia, mostrando muito sangue, órgãos e, claro, nudez. Para pessoas que se incomodam com imagens como um corpo humano sendo cortado para a retirada dos seus pulmões, o filme não é indicado, pois isso aparece de maneira bastante convincente. Em se tratando de corpos mortos, o tratamento é ainda mais indelicado e brutal, com costelas sendo quebradas e crânio sendo aberto, por exemplo. Ironicamente, Ovredal atenua o impacto do realismo das cenas com rock: enquanto Tommy e Austin trabalham, gostam de ouvir rock, o que, em princípio, não combinaria com a cena, mas que é justamente a sua inteligência.

Sabendo que terror não vive apenas de jump scare - sim, o filme tem alguns jump scares, mas sem exagero -, a direção investe (e acerta em cheio) no poder de sugestão, reduzindo a visibilidade em alguns momentos. Em determinada cena, quando acaba a luz, uma personagem usa a luz do celular, fazendo com que o feixe de luz restrinja a visão do espectador e permita que a criatividade preencha o resto (além da expectativa). Luzes que se apagam não são novidade, mas também não são esperadas naquele contexto. Também há pouca visibilidade em uma cena com fumaça, em que as imagens são vultos. Nem tudo precisa ser mostrado, muitas vezes a sugestão é mais forte. Ademais, merece ser celebrada a espetacular direção de arte, que obrou com riqueza no local de trabalho da dupla, baseando-se no seguinte tripé: cores escuras (a iluminação restrita da fotografia as enaltece também), visual antigo e arquitetura labiríntica. Para as cenas-chave, de maior tensão, esse visual colaborou muito na sensação de aflição. Nos corredores foram colocados espelhos convexos, ideia genial porque dá naturalidade às cenas em que a câmera quer mostrar algo que uma personagem não presta atenção ou mesmo para dar um enfoque diferenciado.

A AUTÓPSIA não é o filme do ano, mas serve como exemplo de terror bem feito. Mais que isso, serve como prova de que terror não precisa ser estúpido, com um roteiro mal elaborado, uma direção preguiçosa e sustos incessantes e desnecessários (assustar por assustar não é fazer arte). Com mais exemplares assim, menos pessoas dirão "eu não gosto de terror".

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Guardiões da Galáxia Vol. 2 -- Enlatados serão sempre enlatados

A síndrome do segundo filme acomete mais uma vítima. Desta vez, outro filme de heróis, o diferente pero no mucho GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 2 (o nome é uma autorreferência, em relação ao segundo volume das fitas cassetes do protagonista Star Lord). Sem delongas, uma síntese da representatividade cinematográfica do longa: mais um enlatado pouco criativo, ainda que bem executado, e que em (praticamente) nada agrega em termos artístico-culturais. Palavras duras, porém, verdadeiras - e que também não ignoram o seguinte fato: como entretenimento oco, serve. Tal qual um enlatado, cujo conteúdo, depois de exaurido, deixa a embalagem completamente vazia. De forma ainda mais sintética: diversão efêmera, descompromissada e para públicos de todas as idades.


Depois dos eventos do primeiro filme, os Guardiões da Galáxia Peter Quill/Star Lord (Chris Pratt), Gamora (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista), Rocket (voz de Bradley Cooper) e Baby Groot (voz de Vin Diesel), agora são reconhecidos e contratados como tais. Porém, nem tudo ocorre como gostariam e fazem novos inimigos, enquanto encontram Ego (Kurt Russell), um Celestial (planeta vivo) que se anuncia como pai de Peter.

Desta vez, o roteiro aposta mais na origem de Peter, o que dá certo, pois Ego é fascinante como personagem. Ele tem motivações bem delineadas e Kurt Russell é bom ator, dando conta do papel com facilidade. Ademais, o equívoco do acréscimo excessivamente rápido das camadas da personagem é responsabilidade do roteiro e não do ator - um plot twist previsível e necessário para um filme de heróis. Nesse quesito, embora se trate de um filme de (super-)heróis, os Guardiões continuam funcionando mais como anti-heróis com seus desvios de caráter como lapsos. É verdade que seus erros - do ponto de vista moral - são diminutos, mas continuam se fazendo presentes, o que é importante, pois Star Lord não é o Capitão América e Rocket não é o Visão. Por tal razão, Peter pode flertar com a Sacerdotisa Ayesha (Elizabeth Debicki, que parece se divertir como vilã) mesmo sendo apaixonado por Gamora, bem como Rocket pode considerar aceitável cometer furtos. No mesmo sentido, Yondu (vivido pelo mais uma vez insatisfatório Michael Rooker) é perito em crimes patrimoniais, enquanto Drax é um verdadeiro sádico durante as lutas.

O flerte entre Peter e Ayesha serve de exemplo do subtexto sexual presente no script, reiterado na menção feita por Mantis (Pom Klementieff, ótima) da atração sexual que Peter nutre por Gamora - e presente também já no agradável prólogo com um jovem e namorador Ego, em que é utilizado um CGI de qualidade para rejuvenescer Kurt Russell (mesma técnica já usada em Robert Downey Jr.). Por sinal, o longa é quase inteiro filmado em chroma key, porém, como os efeitos digitais são de qualidade, tudo funciona de maneira excelente nesse quesito. Como planeta, Ego lembra Oz, com um esplendor de cores que garante um espetáculo no design de produção - verdade seja dita, a riqueza de cores é um atrativo especial em GdG (desde o primeiro filme). O 3D é razoável no geral, tendo como melhor momento o uso do 3D ativo na flecha de Yondu. Não é exagerado concluir que o diretor é bastante competente com o limitadíssimo texto que tem em mãos: James Gunn não tem um roteiro complexo, mas sabe que os efeitos visuais são fundamentais para extrair o máximo e agradar seu público. Como filme de herói, não falta o básico, como um spinning shot quando o grupo se une (quase idêntico ao visto no primeiro "Os Vingadores"). Como filme de ação, as sequências agitadas são empolgantes na medida coerente, isto é, não aquém nem além da proposta, vez que a veia cômica é bastante pungente, mais ainda que a ação.

Como mencionado, há uma forte veia cômica e existem piadas boas - mas também piadas horríveis, muitas delas pueris e, portanto, incoerentes com o subtexto sexual. Como qualquer ação cômica, nem todas as piadas funcionam, ao menos para quem já tem dez anos de idade já completados (para os outros, o tapete que trava e o não amadurecimento de um alimento fazem rir). Também não se pode ignorar que algumas piadas são de péssimo gosto, em especial a insistência de Drax (Dave Bautista, agora um dos melhores) na concepção (literalmente) de Peter. No geral, prevalece o nível da comédia infantiloide, como o que se dá quando uma personagem se corporifica como Pac-Man (isso mesmo) para lutar. Já quando o plot tenta adentrar em terrenos dramáticos, claramente não é essa a vocação e a ineficácia é patente, sem convencer. Todavia, quando a seriedade cabe a Nebula (Karen Gillan, desta vez mais confortável que no primeiro "volume") - ou Nebulosa, na tradução -, o nível não é ruim, apenas inferior à descontração que prepondera. Embora o saldo da direção seja positivo, Gunn deveria ter tornado os momentos introspectivos menos arrastados, pois alongá-los não garantiu maior impacto no espectador. Especificamente sobre Nebula, houve uma necessidade em dar (de alguma forma, qualquer que fosse, ainda que "manca", como no caso) mais camadas a Gamora, caso contrário, ela teria sido ainda mais esquecida pelo script. Do ponto de vista do diretor, teria sido melhor dar mais cenas a Drax e Mantis, por exemplo, que são genuinamente engraçados, e é na graça que GdG se dá melhor. De todo modo, a narrativa se enriquece subdividindo as personagens em tramas menores, algumas mais interessantes e desenvolvidas que outras. Drax e Mantis têm química perfeita; outras duplas, nem tanto.

Não obstante, o que o filme acerta em cheio, mais uma vez, é no sensacional uso da excelente trilha sonora. A sonoridade se torna quase mágica com a música "Brandy (You're a Fine Girl)", da banda Looking Glass, que toca já na primeira sequência - ignorando-se que a música é um pouco anterior ao ano indicado. Depois, a música é explicitamente conectada ao plot: no geral, o que Gunn faz é um recurso exageradamente didático, explicitando o porquê de a música ser adequada; nesse caso, contudo, é uma autêntica metalinguagem rocambolesca que faz sentido na narrativa. Ou seja, o filme enfatiza a pertinência temática da música, o que, naquele contexto e naquela cena, soa orgânico e nada forçado. Enfim, as músicas podem não ser do agrado de determinado espectador, mas seu uso é impecável.

Longo e cansativo; engraçado, porém infantil; com a participação nada especial de Stallone sendo Stallone; o segundo "volume" de GdG perde o elemento novo do primeiro e comete alguns exageros (cinco cenas pós-créditos... precisa dizer mais?). Para o público em geral, o filme diverte pelo fantástico humor de Drax e pela fofura inigualável de Baby Groot, que é, sem dúvida, um show à parte - inclusive, o plano-sequência simulado no começo do filme faz valer o ingresso; Baby Groot rouba para si os holofotes, esbanja fofura e encanta a todos. Para os fãs incondicionais, sem dúvida, uma obra-prima. Para cinéfilos criteriosos, uma obra bem feita, mas com sabor indigesto da industrialização de mais um enlatado qualquer. O pior é pensar que há quem considere enlatados melhores que bons alimentos artesanais. Não: enlatados serão sempre enlatados.