terça-feira, 16 de maio de 2017

Alien: Covenant -- Metade da qualidade

Para quem é fã da série "Alien", provavelmente o novo filme vai agradar. É um filme de fan service, o que não é necessariamente bom. ALIEN: COVENANT não se preocupou em ser bom.

A palavra "Covenant" faz referência à nave que leva a tripulação e a colônia que procura um novo planeta para ser colonizado. O grupo acaba descobrindo, a partir de uma pista misteriosa, um planeta que parece ideal para seus objetivos, quando, na verdade, o lugar é muito mais perigoso que parece.

Exceto pelo prólogo, falta inteligência ao filme. Na cena inicial, há um embate ficto entre criador e criatura, com referência expressa às artes, nomeadamente à música e à escultura. Em interpretações muito boas, Guy Pearce e Michael Fassbender dão a entender que o filme propõe questões existenciais, o que infelizmente não é o caso. Aliás, quando Michael Fassbender é o que o filme tem de melhor, certamente o que há de bom é pouco. Não que ele seja ruim, é apenas um ator ordinário, muito distante do brilhantismo que alguns defendem. Aqui, ele está bem melhor que os demais, pois "em terra de cego, quem tem um olho é rei". Esperto foi o James Franco, que faz uma pequena participação especial para não ser creditado na íntegra da fraca obra.

O grande defeito do filme reside no roteiro, sem dúvida equivocado em vários quesitos. A construção das personagens é ruim, formando personagens ocas cujas personalidades são completamente despidas de significado. Por exemplo, Danny McBride interpreta Tennessee, um cowboy espacial que não recebeu sequer um nome no script, renegado a um apelido que resume todo o seu conteúdo, enfatizado por um chapéu, para não deixar dúvidas quanto à sua origem. Katherine Waterston vive Daniels, que seria a nova Ripley, se tivesse ao menos uma das suas virtudes. Waterston não tem uma fração do talento de Sigourney Weaver, e Daniels só consegue alguma afeição do público porque o plot a faz vulnerável desde o princípio. Porém, a expressão de paisagem da atriz insiste em militar em desfavor da personagem.

Com subtramas frágeis e esquecidas, o roteiro vira pretexto para o desenrolar de uma narrativa superficial que finge dar uma origem à icônica criatura que dá nome ao título. No final, um plot twist previsível e entediante que só não envergonha a franquia porque "Prometheus" conseguiu ser pior. Em "Covernant", Ridley Scott dá um passo à frente em relação ao prequel antecessor, investindo em mostrar mais a asquerosa criatura (daí a ideia de muito fan service). Não são poucas as cenas asquerosas, que, teoricamente, entrariam no gênero terror, todavia, o filme não se decide se quer ser sci-fi ou terror, resultando ineficiente nas duas áreas. Como sci-fi, em nada acrescenta neste campo, que notoriamente se tornou terreno fértil para obras aclamadas como "Interestelar" e "Gravidade". Como terror, o fator surpresa que o Alien causaria é inexistente, embora o asco de algumas sequências surpreenda pela falta de pudor. De forma geral, as melhores cenas estão no trailer, que dá a entender um produto melhor que a publicidade (o que não é novidade, é verdade).

Scott é um diretor capaz de conduzir bons filmes e isso já ficou provado. Entretanto, sua obra completa tem altos e baixos, do que se conclui que o cineasta não é um nome confiável. Em "Covenant", existe, por exemplo, uma cena delicada em que Fassbender atua consigo mesmo, na contraluz: é um momento artisticamente belo, bem filmado, mas contraproducente em relação ao escopo do longa. As cenas asquerosas, por outro lado, contribuiriam muito mais para o objetivo final, se houvesse um roteiro bem desenvolvido. E a ação desnorteada aproxima Alien de um slasher da década de 1990, o que é vexatório. Claro que poderia ser pior, afinal - não custa reiterar-, "Prometheus" consegue a proeza de ser pior, pois é um marasmo dentro de uma franquia conhecida pela sua adrenalina singular. Ao que parece, já foi confirmada uma continuação. Quem sabe daqui dez filmes cheguem à metade da qualidade de "O Oitavo Passageiro".

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