quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Steve Jobs -- Espectador blasé

Steve Jobs foi uma figura pública que contribuiu bastante para a revolução tecnológica, não se pode negar. Ao alavancar uma empresa e trazer ao mercado produtos inovadores, ganhou notoriedade provavelmente maior que qualquer outra pessoa física. Alguns de seus produtos são hoje reverenciados por consumidores fiéis à marca, tornando-o figura até mesmo cultuada. Seu falecimento, em 2011, acabou por iniciar uma indústria específica capaz de lucrar com a sua morte, gerando livros e dois filmes em cerca de apenas 4 anos. O primeiro deles, "Jobs", é muito fraco e não foi bem recebido. Está em cartaz um novo, com título extremamente criativo (sic), "Steve Jobs".

Diversamente do anterior (aquele com o Ashton Kutcher), o objetivo não foi elaborar uma cinebiografia de Jobs, mas revelar sua personalidade através de três momentos específicos, relativos ao lançamento de três produtos. Cada evento tinha o seu envolvimento, maior ou menor. Há, pois, uma clara tripartição do longa em três atos, iniciando-se em 1984 e dando saltos posteriormente. Apesar de ser uma abordagem não convencional, é criativa - provavelmente gastaram toda a criatividade aqui, daí o título recebido. Além disso, essa opção do roteiro implica maior complexidade, não apenas pela necessidade de expor as variações da personalidade de cada personagem, mas também pelos aspectos visuais e estéticos - da atuação à maquiagem, do figurino ao cenário. Há uma ousadia inegável no roteiro em razão dessa fuga ao lugar-comum, pois o que comumente se espera é, no máximo, um recorte temporal específico (ou, normalmente, uma biografia completa). Porém, isso não basta.

Não se pode negar que o elenco faz um ótimo trabalho. Com nomes como Michael Fassbender (ótimo), Kate Winslet (ainda melhor), Seth Rogen e Jeff Daniels, o diretor Danny Boyle teve o trabalho facilitado. Boyle tem uma direção razoável, majoritariamente discreta desta vez - exceto numa cena com efeitos desnecessários em uma parede. Todos foram fiéis à ideia inicial, desenvolvendo o que era proposto.

Aliás, a proposta é singular e o objetivo de fazer diferente é atingido. A personalidade das personagens - em especial do protagonista - é bem exposta, especialmente seu amadurecimento com o passar dos anos. A interpretação é bem conduzida nesse sentido, conseguindo expressar bem a arrogância que se transforma em indiferença e depois segurança. É bem verdade que o prólogo dá a entender que haverá uma crítica à (possível) dependência do ser humano às máquinas, mas essa ideia é abandonada. O roteiro seria excelente, mas não o é porque, apesar de ousado, é um plot repetitivo e frio. É repetitivo - e, por via de consequência, cansativo - porque cada um dos três atos traz as mesmas personagens debatendo suas mesmas relações, apenas em nova perspectiva (mais amadurecida). Ou seja, o roteiro é rocambolesco, e o sabor é insosso. Daí também a frieza, não das personagens, mas da história em si. Até existe um progresso (reiterando, o amadurecimento), mas a sensação que o final dá é de indiferença. Não é um filme que empolga (tenta criar expectativa no pré-lançamento dos produtos, malsucedida), que faz refletir, que faz alguma diferença na vida do espectador. Claro que ele não tem a ambição de "mudar a vida" de ninguém, porém, nem o epílogo piegas tira o provável olhar blasé do espectador quando o exageradamente longo filme se encerra.

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