segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Vai que cola - o filme -- Ridículo, mas não ruim

Ser ridículo não necessariamente significa ser ruim. A palavra é polissêmica, vai desde o insignificante ao risível. Provavelmente "Vai que cola - o filme" merece todas as acepções desse termo.
Não se pode levar a sério um filme que não se leva a sério - e que justamente por isso começa a ser ridículo. Exemplo é o fato de o protagonista, Valdomiro (Paulo Gustavo) admitir que está em um filme (como na cena do trailer em que ele afirma ser desnecessária a quantidade de figurantes existentes). Isto é, o próprio filme se admite como filme, sem fingir ser "vida real". É dessa premissa que a obra parte, deixando claro ao espectador que não deve ser levado a sério.

Tanto não deve ser levado a sério que, além de tudo ser exageradamente estereotipado, existem piadas consigo mesmos. Novamente se sobressai Valdomiro, que tira sarro dos outros, mas também de si mesmo. Tudo se torna oportunidade para piada e gozação, mas sem apelações de caráter sexual. Há piadas sobre sexualidade, não sobre sexo, o que acaba sendo um diferencial, pois são incontáveis as comédias que "abusam do sexo" para arrancar risos. O ápice da sexualidade fica com Marcus Majella, que interpreta Ferdinando, um homossexual bastante afeminado. De uma forma grotesca, não se pode negar, mas que se torna mais inofensivo quando Ferdinando tenta seduzir Brito (Oscar Magrini).

Os holofotes ficam com Paulo Gustavo, como não podia deixar de ser. Ele é dotado de um carisma inigualável, de modo que é engraçado em tudo que faz (não apenas ao gozar de si mesmo). Contudo, Marcus Majella, Samanta Schmutz (Jéssica) e Cacau Protásio (Terezinha) também conseguem brilhar. Os demais têm reduzida importância - merecem destaque Fiorella Mattheis, absolutamente descartável; Catarina Abdalla, simplória demais; e Fernando Caruso, com duas subtramas (uma de suspense, outra de romance) que, mesmo no ápice, não empolgam. Para um filme - afinal, a base é uma série de televisão -, teria sido melhor reduzir as personagens e dar espaço maior para as mais relevantes. Mesmo Valdomiro merecia mais tempo, não apenas pelo ótimo Paulo Gustavo, mas para explorar melhor seu caráter duvidoso.

O retrato feito do Rio de Janeiro, de maneira bastante jocosa, provavelmente se torna mais interessante aos que lá residem. A contraposição entre os bairros - Leblon e Méier - é feita como se o abismo fosse ainda maior do que realmente é, justamente para seguir na mesma linha do ridículo. Aliás, a contraposição já citada sobre a sexualidade (Ferdinando versus Brito) também sugere um interessante abismo entre o homossexual assumido e o (talvez) enrustido (dúvida que persiste durante a trama). Uniu-se às contraposições algumas incoerências pessoais, como o coração mole de Valdomiro, que, em tese, não seria uma pessoa de conduta exemplar, e o vaivém emocional de Máicol (Emiliano D'Ávila), que é apaixonado por Jéssica (Schmultz), mas cede aos avanços de Velna (Mattheis). Diversamente, Terezinha (Protásio) e Jéssica são lineares: a primeira subsiste por si só, a segunda diverte com Klebber Toledo (que interpreta a si mesmo).

São tantas as subtramas e tantas as personagens que o resultado é uma salada minimamente agradável. Ridículo do começo ao fim, mas não chega a ser ruim, pois, em nenhum momento, é apelativo. Se não faz o espectador "chorar de tanto rir", também não é monótono - e nem confuso. Com humor leve e bem escrachado, embora muito inferior a "Minha mãe é uma peça" (como disse Ferdinando/Majella, Paulo Gustavo é melhor atriz do que ator), o filme acaba como uma diversão descompromissada e neutra.

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