segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Um senhor estagiário -- Brandura

Alguns diretores optam por arriscar, tentar algo novo, diferente e - por que não? - polêmico. Não é o caso de Nancy Meyers, diretora de "Um senhor estagiário", filme que conta com elenco estelar e roteiro brando.

É justamente a brandura do roteiro que desqualifica a obra. Tudo é muito "perfeito", muito fácil e exageradamente superficial. Existe uma trama central, que, ao contrário do que pode parecer, é a carreira de Jules, vivida por Anne Hathaway. Na verdade, isso já indica alguns equívocos. O título se refere a Ben, interpretado por Robert De Niro, mas o que acaba sendo nuclear no filme é a dificuldade encontrada por Jules (Hathaway) para manter o mesmo status que outrora tivera na empresa que comanda. É aí que entra Ben, dando um suporte emocional a ela. Ou seja, no fundo, a relação entre os dois é subsidiária. Não chega a ser esquecida, mas é apenas mais uma subtrama. A expectativa de que o filme abordaria a relação entre eles - o que seria interessante, principalmente por focar no aspecto profissional - se dissipa à medida que Jules ganha maior importância. Mesmo nessa trama central - a carreira de Jules -, não se pode dizer que há um aprofundamento no debate. A mulher no mercado de trabalho, trabalho versus família, juventude versus experiência no comando de uma empresa e assim por diante. Tudo está lá. Mas tudo suave, brando, delicado, passando quase despercebido ante a suavidade no tratamento. Isso sem olvidar as subtramas, que são ainda mais superficiais, em especial a temática do relacionamento na terceira idade, potencial ignorado em especial pela inserção de Rene Russo como coadjuvante abaixo dos demais coadjuvantes.

Vale dizer, são várias as temáticas abordadas, mas de uma forma tão superficial que não consegue ter a aptidão de convidar o espectador à reflexão. Em síntese, o famoso "água-com-açúcar", típico de Nancy Meyers. Na verdade, "Alguém tem que ceder", da mesma diretora, ao optar por focar no aspecto romântico, acaba sendo mais denso. "Um senhor estagiário" forma uma teia de tramas e subtramas tão plural que acaba sendo horizontal demais. Isso não significa, de uma forma imediata, má qualidade. Contudo, indica tratar-se de mais um filme dispensável, ainda que leve e agradável. Ironicamente, ao expor tantas subtramas, os atos centrais (do ponto de vista temporal) são tão arrastados que até entediam. Era possível reduzir sem prejuízo da narrativa - exemplo: a dificuldade de um dos colegas de Ben, também estagiário, ao conseguir um lugar para morar, tema completamente dispensável.

Em termos de elenco, De Niro e Hathaway, como é de se esperar de artistas deste cacife, cumprem bem as propostas. Pessoalmente, não gosto de Hathaway, ela parece estar vivendo sempre a mesma personagem (talvez ela mesma). Comparando Jules com Andy, do clássico "O diabo veste Prada", a discrepância é tão sutil que parece a mesma personagem. Nos dois casos, há um perfil semelhante, o que, aparentemente, impede Hathaway de diferenciar Jules de Andy. Diversamente, De Niro, uma lenda viva, sem genialidade - até porque o papel não permitia -, expõe um carisma de poucos (como não simpatizar com Ben?), chamando a atenção sempre que participa. Colaboram com as respectivas atuações os figurinos: no caso de Ben, bastante regular, desde os ternos impecáveis à pasta "clássica", indicando o quão tradicional e metódico ele é; Jules, por outro lado, tem um figurino irregular, variando entre o moderno e arrojado e o clássico discreto. O figurino de Ben é fácil e compatível com a personagem, de Jules, por outro lado, se torna incompreensível de tão inconstante - em especial no final, de péssimo gosto (o grand finale de grande não tem nada, e me refiro, desta vez, em especial ao roteiro). Ainda na atuação, Rene Russo é subutilizada: sua química com De Niro é facilmente visível, todavia, a ela não foi dado espaço para explorar a personagem, que sofre pela timidez imposta. Reduz-se à comédia, uma pena! Até mesmo os outros coadjuvantes, de menor conhecimento do público, recebem maior destaque.

"Um senhor estagiário" é agradável a título de diversão leve, descompromissada, mas fica aquém do elenco e do que poderia debater se quisesse. Isto é, elenco e história tinham potencial para muito mais. No entanto, não foi o que Meyers quis. Ela quis uma comédia suave, não marcante. Conseguiu.

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