terça-feira, 19 de setembro de 2017

Madre -- Final apressado

Pesquisando bem, é possível encontrar filmes estrangeiros interessantes (é sempre bom sair do circuito hollywoodiano) na Netflix. Um deles é o suspense chileno MADRE, filme curto de 2016 (cerca de uma hora e meia de duração) que se justifica pela coragem.

A protagonista é Diana, grávida e sobrecarregada, que contrata uma babá para ajudar a cuidar de Martín, seu filho autista. Porém, ela não tarda a desconfiar que a babá tem intenções obscuras. O plot não é muito original, com o argumento de uma empregada que potencialmente trairá a patroa de alguma forma (o próprio sul-coreano "A Criada", também de 2016, tem esse argumento), mas é sempre instigante. Dessa vez, tudo começa com uma coincidência, pois Diana conhece Luz (a babá) no mercado.

Falar o que Luz faz (de bom e de ruim) estragaria a experiência, mesmo um spoiler leve seria prejudicial. É possível dizer, porém, que o menino faz um progresso enorme com ela, a partir da já impressionante cena do mercado em que se conhecem. A direção de Aaron Burns tem a preocupação de enaltecer esse fator através de cores mais saturadas e músicas mais alegres - além de um largo sorriso na protagonista -, em contraposição ao triste início. Esse primeiro ponto de virada, visualmente, é bem mostrado, o que não ocorre no segundo ponto de virada, focado apenas na maquiagem da protagonista, ou seja, outros quesitos são ignorados (embora faça sentido dar ênfase na maquiagem, outros elementos técnicos também deveriam ter sido utilizados).

O "triste início" mencionado, que consiste nos primeiros minutos do primeiro ato, é o momento em que o longa expõe como é o autismo de Martín e como é a rotina dele com a mãe, antes de Luz chegar. O menino não fala, movimenta muito as mãos, come em uma cadeira típica de crianças muito menores (adequada ao seu tamanho), ganha comida na boca (e eventualmente cospe na face da mãe), precisa que a mãe dê banho, usa fralda, defeca durante o banho etc. É bem visível: apesar de grávida, Diana cuida sozinha de seu filho autista com carinho e paciência, de acordo com todas as demandas do garoto. Apesar de tudo, sempre o chama de "mi amor", sem brigar com ele em razão dos eventos desagradáveis. A direção se revela limitada, por exemplo, nas cenas do carro: Martín precisa de fones de ouvido para se acalmar; nesses momentos, seria interessante aumentar o volume (mixagem de som) de uma música instrumental (trilha sonora) bem calma, mas não, Burns mantém o ritmo sonoro da cena.

Alguns elementos típicos do suspense estão presentes. Isso inclui o mais desnecessário recurso: três jump scares, inclusive o primeiro ocorre ainda no primeiro minuto da película. Também por ser suspense, existem momentos de filmagem com câmera na mão, todavia, já ao final, em um corredor, é possível ver o reflexo da luz e a câmera através de um quadro, como se a produção fosse amadora. Reitera-se, a direção é limitada. Na cena em que o marido de Diana está no hotel, ao invés de guardar segredo em relação ao que vai acontecer, tudo é entregue de maneira fácil, retirando o fator surpresa. Outros acontecimentos futuros também se tornam previsíveis em razão do excesso de pistas.

O papel de Diana ficou com Daniela Ramirez, que tem desempenho razoável. Matías Bassi, por outro lado, se sai muito melhor como Martín, brilhando nas cenas em que precisa manifestar o autismo em um grau mais severo. Luz é vivida por Aida Jabolin com uma calma enervante, sugerindo passividade, até mesmo um ar angelical (corroborado pela idade), tornando-a estranha e enigmática. Nicolás Durán tem uma participação menor como David, filho de Luz, porém, tem uma fala que corresponde ao único momento em que o filme aborda com maturidade a delicada matéria da criação de filhos autistas. O tema não é nada simples: os pais querem o melhor para os filhos ou se livrar de um fardo?

Com dois atos medíocres, o final certamente é o mais controverso - e corajoso - momento do filme. Provavelmente não agradará a maioria dos espectadores, acostumados com um perfil mais previsível e praticamente dentro de um padrão. O desfecho foge dos padrões, é ousado e chocante. E isso é elogiável. Por outro lado, seu encaminhamento é megalomaníaco, exagerado e pouco explicado, soando forçado. Seria mais aprazível se tivesse um desenvolvimento menos apressado.

Um comentário:

  1. Olá!
    Assisti duas vezes, praticamente em seguida, a esse filme. Mas não não me manifestei, pois o final me incomodou, foi uma cena grotesca, em aberto, além da misteriosa relação entre Luz e o menino autista. Talvez seja um filme ousado demais, por isso deixe a desejar, não fazendo muito sentido. A cena mais instigante que vi foi o diálogo entre o filho de Luz, David (Nicolás Duran), e a protagonista, interpretada por Daniela Ramires. Ao contrário do que ouvi em algumas críticas, não vi humor em cena alguma, pois a luta de Diana, a mãe de Matias, é solitária, o marido, um ausente e insensível. Finais abertos não me incomodam, mas esse foi lastimável. O filme é curioso sim. Entretanto, um enredo mais ajustado, bem construído, levaria a um resultado melhor, tanto em tensão psicológica como em verossimilhança.

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