sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Death Note -- Decepção para os fãs

Para a presente crítica, pouco importa como é o mangá e o anime. O que importa é apenas o filme DEATH NOTE, produção original Netflix. A produção original japonesa já é consagrada e de qualidade indubitável. Porém, tem seu público mais restrito, já que a plataforma de streaming atinge um público muito maior, no mundo todo. Então, aqui, será irrelevante a relação com a obra original, como se o filme tivesse partido do nada, sem inspiração alguma.

O argumento é bastante simples: Light Turner é um estudante de ensino médio que encontra um caderno - o "Death Note" - cujo poder é matar qualquer pessoa, bastando ao portador do caderno escrever o nome da pessoa e mentalizar seu rosto. Quem faz o serviço é Ryuk, uma espécie de demônio que executa as mortes, a mando do portador do Death Note.

O problema do roteiro não é o argumento, que é instigante, mas seu desenvolvimento inconsistente. Uma dos nomes que Light coloca no caderno para Ryuk matar consiste em uma vingança pessoal, referente ao passado do protagonista, ou seja, traça os contornos da sua personalidade. Contudo, acaba sendo uma história mal contada, de tão obscura. No desenvolvimento da narrativa, também, Light arranja uma namorada manipuladora, Mia, todavia, o relacionamento dos dois é artificial e desconfortável, parecendo um recurso do texto para atenuar a temática pesada (morte). Por exemplo, Light mal conhece Mia, mas, na primeira conversa, já conta tudo sobre o caderno! Há também um exagero nas reviravoltas, o que acaba tornando a narrativa cansativa.

A direção ficou a cargo de Adam Wingard, responsável pelo fraco "Bruxa de Blair" (o remake de 2016). Em "Death Note", há um claro problema de ritmo, fazendo com que o filme se pareça um carro se locomovendo em uma via, ora acelerando, ora reduzindo sua velocidade. Quando Light cria Kira (quem já viu o filme, vai entender; quem não viu, vai entender quando vir), é tudo muito rápido, logo em um momento em que o plot ganha envergadura, tornando-se mais denso e permitindo a reflexão. O pai de Light, nesse sentido, é o contraponto inteligente sobre Kira, mas o longa lamentavelmente não se esforça em verticalizar no assunto.

A carreira de Wingard é mais voltada ao gênero terror, embora esse filme da Netflix se enquadre mais na fantasia. Isso porque o terror é presente apenas na teoria, como na cena em que Ryuk surge, que acaba sendo pateticamente cômica. Por outro lado, a cena da primeira morte é razoavelmente bem feita. Se a direção não é das melhores, no geral, ela também não compromete, ao menos não tanto quanto o roteiro. Estranhamente, o CGI da película é modesto, o que surpreende em razão do alto orçamento. Como se não bastasse, a montagem é bastante falha, como se percebe já no prólogo, que começa com cuts e, sem motivo aparente, muda para a fusão (isto é, usa duas técnicas de pontuação diferentes na mesma sequência sem razão alguma, o que demonstra falta de critério). Na ação, Wingard falha, não conseguindo filmar uma cena de perseguição, em que fica difícil entender bem o que acontece (o problema é de direção e montagem).

No elenco, o nome mais famoso é o de Nat Wolff como o protagonista Light Turner. Wolff ratifica sua não vocação para protagonismo: foi bem em "A Culpa é das Estrelas", em que era coadjuvante, e mal em "Cidades de Papel", em que era protagonista. Evidentemente, a (falta de) qualidade dos filmes ajudaram/atrapalharam seu desempenho. Enfim, a interpretação de Wolff é monotônica, talvez um aprendizado com Cara Delevingne. Também Light é um protagonista frágil: sua moral é questionável - faz tarefas de colegas em troca de dinheiro, mas apanha salvando uma menina que salvava um menino de um bullie - e sua personalidade é insossa (o nome não é à toa). Margaret Qualley defende bem sua personagem: Mia tem uma personalidade forte, muito diferente de Light. Entretanto, acaba sendo unidimensional em razão do roteiro, fazendo com que a atriz exagere nas expressões em alguns momentos. Lakeith Stanfield interpreta L, uma espécie de antagonista misterioso na trama. Quase nada se sabe da personagem, e o desempenho do ator é fajuto. Assim como o de Shea Whigham como o pai de Light. Ironicamente, o melhor do elenco é o que participa somente com sua inconfundível voz: Willem Dafoe faz uma interpretação vocal sensacional, parecendo realmente se divertir no papel do sádico demônio.

O final é muito insatisfatório, já que a preocupação é com uma continuação. O uso da música "The Power of Love" é ultrajante, pois não tem conexão nenhuma com o plot, sendo colocada lá só porque é uma linda canção. Resumidamente, DEATH NOTE é um filme muito fraco e aquém de outras produções originais Netflix, como "Okja" e "Beasts of No Nation". É certamente uma decepção para os fãs do mangá/anime (e uma frustração para o público em geral).

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