segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Maze Runner: A Cura Mortal -- A franquia mortal

O primeiro tinha suas virtudes. O segundo foi muito fraco. O terceiro é um descalabro. Infelizmente, MAZE RUNNER: A CURA MORTAL não cura o declínio da saga, mas mata uma franquia quase promissora.

O protagonista Thomas agora lidera o grupo de clareanos para fugir da CRUEL. Porém, sua última missão consiste em invadir a última cidade, controlada pela CRUEL, onde outros estão presos. E o argumento é apenas esse. Nenhum diretor salvaria um roteiro tão ruim.

O roteiro é ruim por diversas razões, a principal delas é que sobrevive à base de deus ex machina, sendo inteiramente construído dessa forma. Diante das mais labirínticas intempéries que Thomas encontra, a solução é sempre encontrada em fatos alheios, imprevisíveis, inesperados e externos. É a marca registrada de um roteiro mal feito. Então o plot aproveita e coloca personagens enigmáticas, que, a bem da verdade, não agregam. É esse o caso de Lawrence, que, apesar de estar envolvido em um plot twist, poderia ser retirado sem prejuízo na trama. A reviravolta surpreende - é um mérito que precisa ser reconhecido -, todavia, a ausência de explicação é vexatória. Possivelmente o livro resolve essas questões (explica o plot twist e dá um propósito maior a Lawrence), mas fato é que, no filme, isso tudo fica insatisfatório.

É por isso que fica difícil censurar a direção de Wes Ball, que nem é ruim. Com o orçamento de mais de oitenta milhões de dólares, difícil esperar algo diferente de muito "tiro, porrada e bomba" (ainda assim, em quantidade infinitamente menor que nas pérolas do insuperável Michael Bay). De todo modo, o visual não é de todo ruim, como nas cenas de alucinações de Minho, nas quais o diretor une tensão e verossimilhança - dentro daquela diegese fantasiosa, é claro. O design de produção da cidade é bom e faz referência a tudo que se viu de cidades futurísticas, não decepcionando. Não obstante, o longa tem duas horas e vinte de duração, o que permite concluir facilmente que é um filme extremamente cansativo. Nesse sentido, o prólogo é emblemático ao resumir a película: inspirada em "Mad Max", a sequência está mais no nível de "Acquaria" (aquele clássico do cinema nacional com a Sandy), não conseguindo passar a impressão, em momento algum, de que algo vai dar errado, tornando-se tediosa, previsível e sem emoção - contudo, a estética não é de todo ruim. Esse adjetivo é mais adequado à cena do túnel com os cranks, repleta de clichês e obviedades, abusando da maquiagem e da música de tensão.

O elenco é praticamente o mesmo do anterior. O Thomas de Dylan O'Brien é o herói sem desvios morais, que pode errar apenas dentro da sua própria impecabilidade, no espírito de salvar o mundo. Muito mais interessante é Newt, vivido por Thomas Brodie-Sangster, não apenas por este ser um ator melhor, mas porque a personagem representa a nobreza e a razão, o braço direito que todo líder possui para apoiá-lo quando está certo e para mostrá-lo o melhor caminho quando está errado. É uma personagem arquetípica, mas sua sabedoria extraordinária (quando comparada à dos demais) se torna uma virtude muito mais atrativa, em especial em razão dos acontecimentos desse capítulo. Kaya Scodelario foi um equívoco de escalação: Teresa é a personagem que mais move a trama, mas a atriz é irritantemente inexpressiva. Pior é pensar que o elenco conta com Rosa Salazar, que, com menos tempo de tela (e com uma personagem muito menos útil), demonstrou maiores habilidades cênicas. Mas também não faz muita diferença, já que o principal vilão, Janson, é interpretado por Aidan Gillen, que, ao menos nesse papel, é pavoroso. A melhor notícia do encerramento da franquia é que, com sorte, sua desprezível expressão de "olha como eu sou mau" não será vista novamente tão cedo.

Com um 3D medíocre, MAZE RUNNER: A CURA MORTAL se despede sem deixar boas lembranças. É mais uma distopia juvenil que deu errado ("Divergente" mandou lembranças) e que talvez indique que essa área não é tão segura quanto pode parecer. É melhor que os estúdios escolham com maior esmero os livros a serem adaptados - ou os adaptem melhor - da próxima vez. A escolha pode ser mortal para uma franquia.

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