É provável que Pablo Larraín
ainda não seja um diretor conhecido pelo grande público brasileiro. Contudo,
seu filme “Jackie”, que ainda não estreou no Brasil, deve figurar em algumas
categorias no Oscar (ao menos uma indicação de melhor atriz para Natalie Portman),
tornando seu nome mais famoso. “Neruda”, por sua vez, tentou concorrer a melhor
filme estrangeiro. Não seguiu na disputa (pela indicação) porque, de fato, não
atingiu o nível desejável.
Embora o título indique
tratar-se de uma cinebiografia de Pablo Neruda, na verdade, o argumento é
bastante inusitado ao manter-se em um recorte bem específico. Conhecido no
mundo todo e cada vez mais engajado na política chilena, como comunista
opositor ao regime vigente, o poeta passa a ser perseguido político, a ponto de
o presidente designar um policial específico para efetuar a sua captura – que,
porém, se torna um infindável jogo.
O primeiro problema do
roteiro é que o argumento serve de pretexto para uma subversão narrativa,
aliando o recorte histórico real (e suas implicações políticas, paulatinamente
deixadas em segundo plano) a um lirismo poético confuso. Há um nítido exagero,
que prejudica a função pedagógica ao aquilatar em demasia o viés poético da
película. Muito embora o explosivo e sensacional prólogo flerte com uma
intensidade empolgante, cada vez mais a obra assume que abraça a arte em seu
sentido puro em detrimento da faceta histórica do enredo – o que, inclusive,
danifica a narrativa, que se torna rocambolesca e nada envolvente. Resultado? O
filme é chato!
Verdade seja dita: se o
roteiro erra (narração voice over geralmente
é indicativo de preguiça) no desenvolvimento (por exemplo, como o policial
arranja tantas pistas do paradeiro de Neruda?), acerta na conclusão e,
principalmente, em seu lado cômico. Não que o filme se torne uma comédia, mas
as pitadas de ironia e sarcasmo são bastante aprazíveis. Saem desses momentos
conclusões inteligentes, como a cena em que o policial Peluchonneau (Gael
García Bernal, contido, mas eficiente) admite que o chefe do seu chefe (o
presidente chileno) é o presidente dos EUA, ou a divertida cena da rádio. O
zênite consiste no retrato ácido da bipolarização política radical, uma
lamentável demonização do posicionamento alheio que gera intolerância e, em
última análise, vítimas – fato inegavelmente ainda contemporâneo e presente até
mesmo na realidade brasileira. O longa tem seus bons momentos, que acabam sendo
espasmos dentro de um marasmo que conduz o público ao tédio.
A opção de Larraín pela
estética noir em nada contribui para
tornar o filme dinâmico – ainda que fique belo. A insistência na fotografia chiaroscuro (exceto quando o cenário é a
magnífica Cordilheira dos Andes) e, mais ainda, na perenidade de um dispensável
uso de contraluz, gera um visual incômodo e cansativo. Cenários noturnos,
narração e ângulos baixos de filmagem são elementos do subgênero noir, todavia, seu uso deve ser
cuidadoso, sob pena de causar bocejos na sala de cinema – a solução seria uma
narrativa instigante, o que não ocorre.
Há que se reconhecer
virtudes da fita. Luis Gnecco faz excelente interpretação de Neruda, a direção
de arte é irrepreensível e a trilha sonora é soberba (talvez o que o filme tem
de melhor). Contudo, nada disso adianta se o espectador não se sente seduzido
pelo plot. Ao revés, a sensação que
fica é de que, se não fosse chato – ou ao menos se fosse mais curto –, o filme
seria bom.
Nenhum comentário:
Postar um comentário