sexta-feira, 1 de abril de 2016

Casamento grego 2 -- Atualizar muito, renovar pouco, inovar nada

Após uma passagem de praticamente uma década e meia, a (agora) franquia "Casamento Grego" ganhou uma continuação. Em 2002, o sucesso retumbante de público e crítica levaram à conclusão lógica de uma continuação, o que acabou não ocorrendo à época. Hoje, por outro lado, como Hollywood vive um ocaso de criatividade, precisando de remakes e reboots, foi lançado "Casamento Grego 2", que, como esperado, é bem aquém do original.

Também como esperado, todos os elementos antigos retornam: a exageradamente calorosa família Portokalos, a demonstração da origem grega de tudo (em especial as palavras), o spray limpa-vidros que soluciona tudo etc. Esse é o lado cômico do longa, que, repetindo o anterior, investe também no lado romântico, mas demasiado sutil no quesito. Na verdade, enquanto a frente romântica move a narrativa, as piadas funcionam como alívio cômico, fórmula básica do gênero. O argumento é também dúplice: o relacionamento entre Costa e Maria, pais de Toula, e os relacionamentos de Toula (com o marido e a filha). Costa descobre que o casamento com Maria nunca foi formalizado, surpreendendo-se quando ela afirma que, para efetivar a formalização, ele deveria ser mais romântico, pedindo-a em casamento e fazendo uma grande festa - para o seu desgosto e sua discordância. Por sua vez, Toula agora é uma mãe que, de tão dedicada enquanto tal, esquece que também é esposa (embora o marido não aja muito diferente) - sendo necessário um empurrão da tia Voula para mudar a situação.

Esta é a breve sinopse, a partir da qual o desfecho previsibilíssimo se anuncia. Assim como no primeiro filme, Nia Vardalos é a responsável pelo roteiro, que perde a originalidade por se tratar de uma continuação e por optar por não inovar. Despido de surpresas substanciais ou reviravoltas, o plot não inova, reduzindo-se a renovar com poucas novas personagens e impor a passagem do tempo às velhas. Se antes Toula era uma moça inexperiente e sufocada pela família, agora ela é que faz parte do sufocamento, mas da sua filha. O roteiro investe na matéria do relacionamento entre pais e filhos adolescentes, com cenas e falas emblemáticas (como a pergunta retórica sobre a "mudança  de nome", de mommy para mother). Os pais não querem que o filho - no caso, a filha Paris - saia do "ninho". Por se tratar de um filme propositadamente soft, esta temática é retratada de forma superficial e suave, sem grandes atritos. Existem também alguns subtemas interessantes, mas expostos sem profundidade, como o relacionamento com os vizinhos e a sexualidade - sobre esta, há um tratamento sensato e delicado, todavia, tão curto que nem chega a criar uma virtude no longa. Ademais, é visível a preocupação em atualizar o universo diegético ao inserir temas cotidianos, em especial tecnológicos, como as redes sociais (facebook, twitter), facetime e mesmo zumba. O objetivo era gerar piadas, contudo, o fato se torna mais interessante por representar esta necessária atualização. Subliminarmente, aponta-se a tecnodependência, símbolo imprescindível na realidade hodierna. Como no primeiro filme, o roteiro desenvolve muito mais as personagens femininas, com destaque para Toula, Maria e tia Voula (Paris funciona quase que exclusivamente como engrenagem narrativa), inclusive em detrimento dos homens (exceto, talvez, Costa). Porém, há um paradoxo ao final no monólogo de Maria, que vira uma figura dúbia em alguns momentos, tornando a personagem uma incoerência em si - nada que chegue a prejudicar o já fraco roteiro.

Para atualizar o espectador em relação ao universo diegético, é inserida uma narração voice over no início, com a voz de Toula, situação rara em que o recurso é a opção lógica (porque normalmente é pura preguiça do roteiro). O diretor Kirk Jones é modesto na direção, indo além do óbvio apenas na filmagem inicial em travelling aéreo e seguindo com pouca profundidade de campo o filme praticamente inteiro, criando uma atmosfera intimista - até porque o humor está mais no texto do que no visual. O elenco é praticamente irretocável e tem uma química notória (o que facilitou o trabalho de Jones): Nia Vardalos é a mesma Toula; John Corbett tem importância reduzida, mas é o mesmo Ian; Maria e Gus (Costa) são vividos com a mesma excelência de 2002 por Lainie Kazan e Michael Constantine. Dos coadjuvantes, apenas Andrea Martin brilha como a inigualável tia Voula, uma das personagens mais fascinantes. Já a Paris de Elena Kampouris é insossa, prejudicando o papel em razão do desempenho fraco da atriz.

Nem a belíssima "All of me", de John Ledgend, consegue alavancar "Casamento Grego 2" a outro patamar com um grand finale (que inexiste). O filme não é ruim, mas desnecessário, pois assistir novamente ao primeiro é muito mais aprazível. Mais um reflexo do ocaso de criatividade de Hollywood, desta vez atualizando muito, renovando pouco e não inovando.

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