quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Thor: Ragnarok -- Não encerra bem a trilogia

Embora a "subfranquia" Thor seja encarada por alguns como a pior do Universo Cinematográfico Marvel (essa sim franquia), essa avaliação é um pouco injusta. O primeiro filme tem uma direção boa (como reprovar Kenneth Branagh?), enquanto o segundo tem um roteiro que avança bastante no arco dramático do herói (em especial nas suas relações interpessoais). Nesse sentido, THOR: RAGNAROK talvez seja o pior da trilogia, ao menos para quem não considera os dois anteriores ruins. Ironicamente, quem pensa em sentido contrário (ou seja, quem detestou os dois primeiros) está vendo com bons olhos o capítulo final. Ainda assim, em termos de roteiro, há um visível retrocesso.

Em "Thor 3", o herói se encontra preso em um planeta desconhecido, sem sem Mjolnir, obrigado a enfrentar um torneio de gladiadores onde o campeão é um colega Vingador, o Hulk. Enquanto isso, a implacável vilã Hela inicia uma empreitada para concretizar o Ragnarok, ou seja, o apocalipse de Asgard.

Ou seja: Thor está em um planeta distante, sem seu martelo, enquanto Asgard está em risco. Sim, o plot é estruturalmente idêntico ao do primeiro filme, o que revela, já de início, a completa falta de criatividade dos roteiristas. O que não é novidade, pois criatividade não é o forte dos estúdios Marvel. Outro equívoco do texto é deixar o espectador perdido, já que os fatos são jogados, em benefício da ação: o protagonista é lançado de um lugar a outro (desde o prólogo) sem muita justificativa, pois o importante é o desenrolar da narrativa, não sua contextualização. Nesse sentido, o prólogo existe apenas por razões de didática, já que a batalha é extremamente fácil e, a despeito do início praticamente descontextualizado, o intuito é que seu conteúdo - esse sim explicado - seja relevante.

Também no prólogo, há uma simulação da quebra da quarta parede (parece que ocorre, mas não ocorre), raríssimo momento que a direção de Taika Waititi se mostra inventiva. O diretor é competente, todavia, não consegue ser criativo (e também não precisa, afinal, o roteiro também não é). Isso significa que, como ocorre no primeiro filme, existe aquele momento que cria um pretexto qualquer para colocar o deus do trovão sem camisa. O próprio ator já revelou publicamente que se sente desconfortável pelo abuso do seu corpo, porém, a indústria cinematográfica continua tratando-o como um objeto, razão pela qual ele ainda precisa exibir a boa forma. A novidade é uma cena de nudez de Hulk (nádegas de cor verde), o que surpreende, em se tratando de um produto que pensa em seu público infantil.

Waititi faz um festival de CGI e de cores vibrantes, talvez seja este o filme do UCM que usa a maior variedade de cores vivas. Isso até é coerente com o roteiro alegre e repleto de piadas, porém, incoerente com a premissa apocalíptica. Como pode haver alegria no Ragnarok? Não faz sentido que Thor esteja tão "engraçadinho" e empolgado enquanto seu povo está prestes a ser dizimado por uma ditadora cruel! É bem verdade que a Marvel prefere fazer seus filmes em tom leve, priorizando o humor e a ação. Entretanto, o ótimo "Capitão América: O Soldado Invernal" serve como prova de que também sabem fazer filmes sérios. Era o momento de fazer um filme sério, não um filme depressivo ou introspectivo. O Ragnarok deveria preocupar Thor, o excesso de piadas é contraditório.

Como se não bastasse, é nas piadas que reside um dos maiores problemas do longa. Que é esse o viés de preferência da Marvel, reitera-se, não há dúvida. Porém, existe uma diferença entre dar comicidade às produções e infantilizar os filmes. Dessa vez, a infantilidade das piadas atinge níveis estratosféricos, normalmente com um humor que, para adultos, não tem graça. Talvez, para crianças de até dez anos de idade, possa funcionar. Contudo, a conversa de Thor girando em uma corrente e ficando de costas para um vilão, ou um trocadilho de uma personagem a respeito da relação entre seu corpo e o "jokenpô" são momentos sem a mínima graça. Para combinar, a música-tema também soa infantil.

Não obstante, o roteiro também tem acertos. A despeito de um primeiro ato acelerado em demasia, querendo levar Thor ao planeta onde está Hulk o quanto antes, o senso de heroísmo do deus do trovão é a referência para o gênero, fazendo todo o sentido em se tratando de um nome clássico. Não poderia ser diferente com ele, assim como, por exemplo, com o Capitão América. É nesse mesmo raciocínio que o texto passa uma certeira mensagem de enfrentamento dos problemas, censurando a opção de fugir das dificuldades, o que é retratado no embate entre Thor e a Valquíria. O ensinamento é valoroso, já que o filme fará sucesso com o público infantil. Por fim, a desconstrução de uma personagem (Odin), embora clichê, por se tratar do ideal de perfeição de Asgard, acaba sendo benéfica ao plot, mostrando que nem tudo é o que parece.

Porém, é uma pena que a lenda viva Anthony Hopkins seja desperdiçada com tão pouco tempo em tela. Aliás, desperdício de elenco é o que mais ocorre na película. Por exemplo, a participação de Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) é rápida como um flash. Mark Ruffalo também aparece pouco como Bruce Banner, pois Hulk é mais participativo em Ragnarok. O que é uma pena, já que o gigante esmeralda é completamente desnecessário na trama - a luta entre ele e Thor, ápice da ação, é apenas fan service da Marvel, além de referência aos gladiadores romanos. Jeff Goldblum interpreta um Grão-Mestre na base do overacting, o que é excepcionalmente permitido em razão da atmosfera louca em que se encontra. Tessa Thompson acerta na profundidade do papel, que tem conflitos internos, bem como Karl Urban, que também consegue expor um sofrimento calado.

Quanto ao trio principal... Chris Hemsworth não é um bom ator, mas também não é ruim - ou seja, serve para o papel. Cate Blanchett pode até se divertir como Hela, mas é uma antagonista superficial e genérica. A atriz é tão extraordinária que consegue atuar bem a partir de um descalabro de roteiro. Blanchett consegue ser expressiva até mesmo com um texto inexpressivo, uma ordem para Thor e Loki se ajoelharem não soaria da mesma forma se fosse outra atriz. A maquiagem e os efeitos visuais que a rodeiam são estonteantes, seus poderes, impressionantes. Ainda assim, falta profundidade à vilã, o que reverbera no potencial de uma atriz tão gabaritada. A conclusão não poderia ser diferente: pela enésima vez, Loki é o que há de melhor da subfranquia Thor. Isso ocorre não apenas porque Tom Hiddleston é o melhor ator do elenco principal, mas porque a personagem continua sendo a mais fascinante. Dessa vez, o deus da trapaça não tem aquele ar de superioridade, mas sua dubiedade moral é inafastável, o que justifica seus atos controversos. O irmão (adotado, como ele insiste em ressaltar) de Thor nunca é confiável, parece estar sempre à espera de uma oportunidade para fazer o mal. Mas eventualmente também comete boas atitudes.

Não, "Thor: Ragnarok" não encerra bem a trilogia, não ficará marcado como um dos melhores do UCM e não alavancará a carreira de Taika Waititi. É um desperdício de elenco e de tempo do espectador adulto. Para os infantes, talvez seja uma opção válida.

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P.S.: o 3D é dispensável. Há uma cena em que Thor fica em uma cadeira preso, parecendo ter alucinações, é uma oportunidade em que a tecnologia poderia ser bem utilizada. Não é o caso.
P.S.2: a segunda cena pós-créditos é uma das piores (se não a pior) do UCM até hoje.

2 comentários:

  1. Huumm Também tenho críticas em relação ao Thor Ragnarok mas é um pouco mais enquanto a lógica da história e motivação das personagens. O Hulk faz sentido, mandou o Quinn Jet p bem longe da Terra e vive num lugar onde suas características são valorizadas. O Thor chega lá, precisa de ajuda o Hulk ve a gravação da viúva e volta a ser Banner (beleza) em Asgard Banner pesa prós e contras e volta a ser Hulk. Agora .... o que as OUTRAS personagens estavam pesando????? Odin resolve morrer na Terra mesmo, sendo que era so uma Bifrost de Asgard sabendo que sua morte libertaria Hela (de quem ele nunca falou nada para ninguém deixando uma bomba enorme nas mãos do Thor e do Loki. Por que ele não tentou avisar ou não avisou Heimdall assim que se descobriu na Terra ???? Ele DEIXOU o Loki tomando conta de Asgard (porque quis??? Por que Thor não queria ser rei???). Ok Thor e Loki em Sakaar, O Loki poderia escolher ficar por ali para não morrer nas mãos da Hela, poderia ter algum acordo posterior com o Thor.... Mas por que o Grão mestre chama o Loki e a Valkiria p resolver o sumiço do campeão????? O que o Loki tinha a ver com aquilo? Não foi ele que levou o Thor, não ganhou nada com com a transação entre a Valkiria e o Grão mestre... Ele não tinha NADA a ver com a história até o Grão mestre colocar ele lá só pelo fato de serem irmãos? Dai eles saem da sala, ele provoca a Valkiria briga com ela é capturado e ofertado como presente para o Thor?? Caraca o que o Thor iria fazer com o Loki a partir daquele momento, levar p Asgard como prisioneiro? Fazia sentido prender o Loki se a Valkiria queria ajudar o Thor, mas não foi muito fácil não (considerando que ele é o mestre das trapaças e mentiras)? Que joguinho idiota foi aquele sobre as naves, ou "quero sair de Sakaar" (para Asgard em guerra, claro!), "talvez seja uma boa ideia ficar em Sakaar" para depois o Thor colocar o disco de controle na CAPA do Loki e mesmo assim o disco funcionar??? Tudo bem, o Loki pode ter sua própria motivação, etc, mas ele não precisa ficar totalmente fora da caixinha para ficar do lado do Thor uma vez (ne?). Depois que o Thor deixa ele lá em Sakaar ele vai com uma nave para Asgard, para que??? Ele sabia que o Thor não iria conseguir impedir a Hela e precisaria evacuar Asgard? Então... por que a Comodoro foi a primeira opção de nave do Thor??? Se o Loki tivesse resolvido ir p Bahamas com os rebeldes de Sakaar todo mundo em Asgard morreria lá mesmo???? Depois, o Thor pede p Loki ir p cofre e usar a cabeça do Surtur e ele vai p lá provavelmente morrer porque o Thor pediu??? Ou ele JÁ tinha planos de usar o Tesseract ou estava disposto a morrer por Asgard.... mais rápido que o Thor tá herói demais para quem era vilão a dois filmes atrás....

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