domingo, 27 de agosto de 2017

A Torre Negra -- Desperdício

Stephen King é um ator venerado, mas muito mal aproveitado quando suas obras vão para o cinema - salvo, é claro, louváveis exceções, como "O Iluminado". 2017 trouxe para seus fãs A TORRE NEGRA, que acabou sendo mais uma fraquíssima adaptação. O livro deve ser ótimo, não é desnecessário mencionar que a análise feita aqui é, apenas e tão-somente, do filme.

"Há uma torre no centro do universo nos protegendo da escuridão. Dizem que o cérebro de uma criança pode destruí-la". Essas duas frases que aparecem no início consistem no argumento do longa. Destruída a torre pelo cérebro de uma criança, a escuridão que está fora do universo pode nele adentrar, momento a partir do qual o feiticeiro Walter Padick, vilão da trama, governará tudo e todos.

Maniqueísta, não? Bom se fosse apenas esse o problema. O vilão é pavorosamente construído, sendo uma caricatura unidimensional de qualquer antagonista com sede de poder. Não se sabe quem exatamente é ele, apenas que é um feiticeiro poderoso. E que o herói, Roland Deschain, último pistoleiro vivo, é imune à sua magia. Por quê? Porque sim. De onde veio a magia de Walter? Existem outros como ele? Como ele governaria o universo? São vários questionamentos sem respostas, de modo que Matthew McConaughay manchou a carreira ao aceitar o pífio papel.

A situação não é idêntica para Idris Elba, responsável por viver o pistoleiro Roland, herói da história. Quando ele e o protagonista (este merece um parágrafo próprio) se encontram, o pistoleiro está amargurado, desiludido pela derrota sofrida pelo próprio credo, em razão da vitória de Walter. O mal havia vencido a guerra. E também há uma forte dúvida na mente de Roland: enfrentar Walter é o cumprimento de um dever ou a satisfação da própria sede de vingança? Pode parecer um questionamento inócuo, porém, é relevante na medida em que, no primeiro caso, ele continuaria sendo um pistoleiro e, consequentemente, um herói - mais que isso, aparentemente, na mitologia daquele enredo, uma autoridade. Como ótimo ator que é, Elba compreendeu as camadas da personagem e conseguiu dar-lhe a complexidade que o frágil roteiro permitiu.

O protagonista do filme é Jake Chambers, vivido por Tom Taylor. O ator mirim é satisfatório no papel, que é essencial no texto. Há um subplot sobre terapia infantil, falecimento precoce e relação padrasto-enteado, tratado de maneira rasa pelo roteiro - ainda assim, se faz presente. Fora isso, o roteiro é repleto de furos: o garoto é especial, mas do que ele é capaz? Por que ele é especial? Por que os lacaios de Walter têm pele falsa? O que significa a expressão "todos saúdam o Rei Rubro"? A própria Torre não tem muita explicação: quem a construiu? Como ela funciona? Se ela é tão importante, quem a protege?

Ao filme não faltam inutilidades: Jake se interessa por uma menina no vilarejo, o que sugere um romance. Um leve spoiler: não dá em nada. Qual a razão de colocar isso no filme!? Outro momento desnecessário ocorre quando Jake encontra seu amigo na porta da sua casa. Ao menos as poucas piadas não são sem graça, em especial quando o pistoleiro vem para a Terra. Entretanto, nem é preciso dizer que em nada agregam para a narrativa.

A direção de Nikolaj Arcel (também roteirista) é medíocre. Uma grande falha reside no clímax, um pouco rápido e sem emoção. O maior equívoco, contudo, consiste no uso de chroma key aliado a uma fotografia escura, reduzindo a nitidez da imagem, parecendo um trabalho preguiçoso de CGI - exemplo é a sequência de Roland e Jake na floresta. É o primeiro trabalho de maior quilate do dinamarquês. Com sorte do público, o último.

Como o longa tem bastante ação, consegue entreter o espectador que não se importa com um roteiro mal elaborado. Ainda assim, garantidamente não empolga. Talvez, com baixas expectativas, possa satisfazer. É um desperdício de elenco e de dinheiro que poderia ser usado em uma produção melhor. Existem vários melhores em cartaz.

Um comentário:

  1. Recebeu muitas criticas, pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende. A torre negra se tornou em uma das minhas histórias preferidas desde que li o livro, quando soube que seria adaptado a um filme, fiquei na dúvida se eu a desfrutaria tanto como na versão impressa. Li que A torre negra filme foi dirigido por Nikolaj Arcel e fiquei muito satisfeita com o seu trabalho, além de que o elenco foi de primeira. De verdade, adorei que tenham feito este filme. Este dueto de atores tem uma química incrível. Adorei a direção! Eu acho que foi um bom resultado, pode melhorar.

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