segunda-feira, 5 de março de 2018

Operação Red Sparow -- Chegou perto, mas nem tanto

OPERAÇÃO RED SPARROW estreou na quinta-feira passada e é um blockbuster com bastante publicidade. Para aproveitar ainda melhor a experiência cinematográfica (se o filme já foi visto) ou para decidir se vale a pena vê-lo no cinema, o Recanto recebe mais uma vez o amigo e colega Robinson Samulak Alves como crítico convidado para tratar da película. Aqui vai!
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A sedução é tradicionalmente uma das principais armas da espionagem nos cinemas. E não é difícil entender o motivo. Somos mais suscetíveis quando somos pegos desprevenidos dessa forma, logo, por mais que na vida real possa ser diferente, o público aceita com facilidade que um espião treinado possa revelar segredos de Estado enquanto fuma após o sexo. Da mesma forma, uma pessoa com informações relevantes pode se abrir (com o perdão do trocadilho) mais facilmente se seduzida.

Na sua essência, “Operação Red Sparrow” utiliza esse conceito como base para a trama. O filme, que adapta o livro de mesmo nome (originalmente foi publicado como “Roleta Russa”), acompanha a jovem Dominika Egorova (Jennifer Lawrence), uma bailarina que, após sofrer um acidente durante uma apresentação, fica impossibilitada de dançar. Seu tio, Ivan Egorov (Matthias Schoenaerts), vê nisso a oportunidade para recrutá-la para um grupo de espiões treinados para seduzir e conseguir informações que possam beneficiar a mãe Rússia.

O diretor, Francis Lawrence, consegue trabalhar bem alguns dos conceitos que o filme utiliza como detalhes para dar certa veracidade à obra. A violência é real, embora nem sempre seja explícita. Independente do contexto, isso passa a sensação constante de perigo que uma pessoa nas condições de Dominika está sujeita. Da mesma forma, a atriz consegue demonstrar estar ciente de sua situação, e utiliza isso a seu favor, mostrando que não é apenas o sexo que pode ser utilizado como recurso para a manipulação.

Mas quando é necessário, o sexo surge para reforçar que a protagonista não é uma agente especializada em ação frenética - afinal, ela nem teria condições para isso. Ao contrário, ela simula ingenuidade e vulnerabilidade para manipular. Utiliza seu corpo não como um objeto, mas como uma arma. E, quando o filme se encaminha para a conclusão, fica evidente o quanto ela estava consciente de seus atos.

Contudo, se o roteiro é inteligente nesse sentido, ele peca ao se prolongar com sequências mais longas que o necessário. Há um subplot mostrando Dominika executando um de seus planos, que poderia ser reduzido, não interferindo na narrativa e tornando o filme, ao mesmo tempo, mais dinâmico (algo que definitivamente esta obra não é).

A dedicação de Lawrence também é inconstante. Ela simula muito bem os sentimentos de medo quando acuada, ou desejo quando está seduzindo. Todavia, seu sotaque é irritantemente irregular.: em determinados momentos, é possível acreditar que ela tem influência de um idioma do leste europeu; em outros, porém, nem é nem possível notá-lo. Se o filme opta por ignorar o russo (algo que pode ser questionado, pois em alguns momentos as personagens têm longas falas na língua em questão), a direção deveria definir se o sotaque serve à trama ou não.

Outro ponto em que o roteiro peca é na resolução do mistério que leva Dominka ao “campo de batalha”. A solução é gratuitamente oferecida à personagem, sendo que absolutamente nada do que ela fez ao longo de todo o filme interfere em quem realmente é o agente duplo. A resolução do roteiro é tão preguiçosa e desonesta com o público que até a execução do plano perde um pouco da relevância.


Operação Red Sparrow” é um thriller que oscila entre bons momentos de perigo e longas sequências maçantes (quando Dominka está investigando um determinado quarto, há uma tentativa de criar tensão, mas a cena é tão clichê que não deixaria nem um cardíaco aflito). Francis Lawrence parece saber o que quer de seu filme desde o começo, mas peca no momento da execução, algo que só piora com as mais de duas horas de projeção. No fim, é mais uma obra que tenta renovar um gênero, mas não entrega um resultado satisfatório.

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