quarta-feira, 16 de março de 2016

A Série Divergente: Convergente -- O capítulo final ainda pode dar um encerramento digno

Primeiro "Divergente", depois, "Insurgente". Veronica Roth escreveu o epílogo da sua obra em um único volume, todavia, com objetivos meramente comerciais, ele foi dividido em dois filmes, assim como outras franquias baseadas em livros. "Convergente" já deixa suspeitas por este fator, afinal, o lucro foi prioridade escancarada. Contudo, o filme não chega a ser o desastre visto por alguns. É apenas medíocre.

Seu grande erro reside nos efeitos visuais grosseiros. É fácil a visualização da artificialidade do que é visto na tela, tudo muito mal feito - cabe mencionar a exceção relativa à cena do muro (vista no trailer e nos cartazes), esta sim elaborada com esmero. Contudo, a regra é a elaboração de um visual todo mal feito, apostando numa fotografia avermelhada que beira o amadorismo. Quando há maior tecnologia, existem criações nonsense, como bolhas que fazem as pessoas flutuarem. Da mesma forma, a montagem também se equivoca, por exemplo, nas cenas de luta, fazendo incontáveis cortes e dificultando a compreensão do que ocorre. No design de produção, interessante observar que o figurino de Tris muda do branco para o preto para representar sua mudança de atitude na narrativa, enquanto que Quatro tem maior variação, usando até mesmo a roupa vermelha que se justifica pela fotografia (disfarce no ambiente, como de militares). A direção de Robert Schwentke é muito fraca, pois, tecnicamente, erra muito mais que acerta.

Entretanto, o roteiro do longa tem algumas virtudes que merecem ser destacadas. A primeira grande virtude foi abordar temáticas interessantes, contemporâneas e relevantes, encarando-as de forma madura e séria, algo que nem todos os filmes desejam, tendo em vista o risco de soar chato. É visível a crueldade humana nas cenas de julgamentos, pois a morte é vista como solução em relação aos traidores (ao menos pela maioria) - e é aqui que surge a divergência entre Johanna e Evelyn, que têm pontos de vista distintos e começam a liderança nos grupos que concordam com a líder respectiva. A manipulação genética também se faz presente, todavia, de uma forma um pouco rasa, sem grandes explicações em prol de uma didática exacerbada. Seria um ganho e um passo em direção ao sci-fi, mas o roteiro preferiu minimizar a matéria com explicações lacônicas. Na mesma esteira, o código de barras nos pulsos tem significado simbólico de controle populacional (além de um outro elemento que, mencionado, seria spoiler, portanto, melhor evitar), na prática, apenas mencionado, sem um olhar vertical. Porém, não há exagero em afirmar que o filme brilha na sua temática inicial e nuclear, que é a segregação social e a rotulação do humano. Se é verdade que tratar disso não chega a ser novidade no cinema, não é menos verdade que a série tem a audácia de expor a matéria de forma crua. Na verdade, sutileza não está presente na série.

Ao contrário de alguns concorrentes, o terceiro episódio tem início, meio e fim, como o segundo, sem deixar tudo para o quarto (e último). O início de "Convergente" é previsível, mas coerente com o anterior, deixando maior suspense (e mais acontecimentos) para os minutos posteriores à cena do muro. Em síntese, as personalidades e a importância das personagens pouco se altera, exceto no que se refere a Tris e Quatro. Enquanto Tris (Shailene Woodley) despenca de importância e colaboração na narrativa, Quatro (Theo James) vai assumindo um protagonismo que tinha perdido em "Insurgente". No início, ela é a mesma de antes: corajosa, decidida e mola propulsora de todo o arco narrativo, enquanto que ele é apenas seu fiel escudeiro. Com o avanço da narrativa, eles acabam se afastando e tomando rumos distintos: ela perde a personalidade voraz de outrora, ele adquire maior ousadia. Se isso é interessante para as personagens, não o é para os artistas: Woodley tem interpretação inferior ao que apresentava antes em Tris, certamente pela queda da personagem na narrativa; James continua com sua expressão unidimensional de seriedade com fundo blasé, bom aluno do curso Kristen Stewart de atuação que ele é. Enfim, a queda de Tris é maléfica para o plot; a ascensão de Quatro, por outro lado, não chega a ter o impacto que poderia. Aliás, a Tris do início é aquela fascinante que já é conhecida, movida pela curiosidade para saber o que há atrás do muro, e com o atrevimento necessário para fazer o que for preciso para atingir tal mister. Será salutar se ela retornar.

Ainda existem figuras femininas relevantes na continuação, pois, por exemplo, quem ensina Quatro a usar a tecnologia em seu favor no novo trabalho é uma mulher. As lideranças em Chicago também são femininas: Evelyn (Naomi Watts) é a nova Jeanine (o roteiro não é sutil quanto a isso), sendo então enfrentada de frente por Johanna (Octavia Spencer), que é aprofundada neste episódio, mas ainda não o suficiente. Isto é, Evelyn tem uma personalidade cuja dubiedade é previsível e transparente, pois é fácil presumir o que ela pensa; já Johanna é mais desenvolvida desta vez, contando de forma suave seu pretérito e ensaiando avanços. As duas atrizes são excelentes, mas limitadas em razão do papel que lhes foi dado, vez que o script renega a elas aparições menores. Miles Teller retorna como Peter, que continua sendo o egocêntrico irritante que tenta sem êxito ser o alívio cômico. Não há êxito porque Peter é excessivamente caricato, suando inverossímil, o que, inclusive, prejudica a atuação de Teller, que é ótimo - vale dizer, suas reviravoltas já saturaram o potencial que tinham. Os demais coadjuvantes repetidos são de menor importância, como Tori (Maggie Q), Christina (Zoë Kravitz, que tem sua menor participação até agora) e Caleb (Ansel Elgort). Este apresenta algum avanço para se desvincular da imagem inconveniente de antes, crescendo mais ao final, sem apagar o pretérito ruim. Existem ainda duas novas personagens relevantes. A primeira é essencial: David (Jeff Daniels) aparece como um líder enigmático que claramente não é cem por cento confiável, e a interpretação de Daniels é boa apenas quando David tem segredos - logo, quando os enigmas desaparecem, percebe-se a monotonia esculpida pelo ator. A segunda personagem serve como engrenagem em determinado momento da narrativa: Bill Skarsgärd vive Matthew, tão enigmático quanto David, mas que surpreende com um leve plot twist em um momento fundamental. O ator tem o talento da família, não há dúvida.

É perceptível que "Convergente" não explora todo o seu potencial temático, comete erros no roteiro e é tecnicamente fajuto. Não obstante, é possível pescar algumas virtudes que façam com que a obra não seja um desperdício como algumas outras. Afinal, a vontade de enfrentar matérias complexas já deve ser elogiada pelo intento per si. O esmero no capítulo final ainda pode dar um encerramento digno, pois este intermediário está numa zona praticamente neutra. Caso contrário, a série ficará fadada ao desprezo cinematográfico como mais uma tentativa vã.

Um comentário:

  1. Adoro ler livros, cada um é diferente na narrativa e nos personagens, é bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filmes baseados em livros. Convergente e um muito bom filme, quando vi o elenco do filme automaticamente escrevi nos filmes que deveria ver porque o elenco é realmente de grande qualidade. Ansel Elgort e me ator favorito. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto.Seguramente o êxito de Ansel Elgort filmes deve-se a suas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. Sempre achei o seu trabalho excepcional, sempre demonstrou por que é considerado um grande ator.

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