sexta-feira, 20 de maio de 2016

Angry Birds: O Filme -- Intermediário razoável

É preciso admitir que nem todas as animações necessariamente têm viés intelectual para serem boas - embora este seja o ideal. O conteúdo inteligente de "Divertida Mente" e "Zootopia" não permite que "Angry Birds: O Filme" chegue a tal nível de excelência, mas o filme baseado no game para smartphones é uma grata surpresa. Não é excelente, mas é um filme bom e bem divertido.

O prólogo surpreende ao apresentar ao espectador uma misteriosa cena de ação com o protagonista Red, e há coerência posteriormente, pois, se não há tanta reflexão no longa, há bastante ação em um 3D obrado com esmero. Até existem alguns temas complexos tratados de forma leve - tais como fobia social, bullying e controle da raiva (este, bem mais verticalizado) -, mas era possível ir além.

Isso não significa, porém, que o roteiro é raso. Na verdade, a redação do roteiro não era tarefa fácil: era preciso preservar a identidade dos pássaros em relação ao jogo original, criar uma narrativa crível e também coerente com o jogo, e, evidentemente, divertir. Aos poucos, o filme assume a forma do jogo. Pode-se afirmar que tais objetivos primários foram alcançados, inclusive com alguma folga, como ao criar neologismos (Porcópolis, chocaversário etc.).

O ponto alto do filme é sua eclética trilha sonora, empolgante e sensacional ao incluir bastante rock (Scorpions nunca ingressaram num filme de maneira tão orgânica), o country de Blake Shelton e a pop "I will survive" de Demi Lovato, por exemplo. Tudo isso contribui para a montagem acelerada e a direção competente de Clay Kaytis e Fergal Reilly - destaque para os planos longos de 360 graus, sem contar o bom 3D.

A maior virtude do plot é ser mais divertido do que engraçado, até porque se debruça mais na ação do que na comédia. Por outro lado, exceto pelo protagonista, a construção das personagens é rasa. Red tem seu perfil psicológico bem delineado, tornando-se o mais compreendido do trio principal. Chuck é engraçado por ser rápido, Bomba enseja risos por seu problema biológico. Mas é apenas de Red que as informações são dadas ao espectador. Isto é, a preocupação foi traçar os contornos deste e diferenciá-lo dos demais, apenas. Terêncio, outro pássaro de destaque, é a comprovação que, para ser engraçado, não é preciso ter falas. Matilda também aparece bastante, contudo, é mais opaca. O último pássaro importante é o Mega Águia, personagem clichê - e dizer mais do que isso significaria spoiler. Ainda sobre as personagens, a dublagem brasileira é excelente, em especial graças ao trabalho de Marcelo Adnet como Red e de Fábio Porchat como Chuck (os dois couberam perfeitamente nos papéis).

É do equivocado senso comum a ideia segundo a qual o público-alvo das animações seja o infantil. No caso específico de "Angry Birds", há diversos símbolos voltados ao público adulto - por exemplo, uma escultura remetendo à poliafetividade, a simpatia de Chuck em relação à nudez dos porcos e a referência a "50 Tons de Cinza" e "O Iluminado". Isso significa que a chance de tudo isso não passar despercebido por uma criança talvez não compense o ingresso.

Não obstante, o filme é aprazível em todos os seus momentos, sendo um exemplar intermediário razoável entre as animações ruins (como "Norm e os Invencíveis" - leia a crítica clicando aqui) e as ótimas (como "Zootopia" - leia a crítica clicando aqui).

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